terça-feira, 13 de maio de 2014
O sofrimento vem do apego, não do amor
Pergunta – O que é ser verdadeiramente homem?
Monge Genshô – Uma pessoa perguntou à Buda o que os Monges faziam? E ele respondeu: “acordamos, trabalhamos, oramos, comemos, dormimos”. “Mas isso todo mundo faz”, disse o homem e Buda respondeu: “Não é verdade, as pessoas não fazem isso integralmente”. Então muitas pessoas quando deitam para dormir ficam pensando nos problemas que têm quer resolver no outro dia ou, hoje em dia, comem na frente da TV ou lendo um jornal para saber das notícias. Um homem verdadeiramente homem, senta para comer e saboreia a comida sem pensar em mais nada, sente o gosto de cada garfada colocada na boca. Isso é o contrário do que normalmente as pessoas dizem, “eu quero me divertir” ou “eu quero me distrair”. Isso é como se desligar da vida e não pensar, ou como ter que ter um som de música ou TV para não ficar sozinho consigo mesmo. Esse não ficar consigo mesmo é um sintoma de uma doença. A sanidade é você conseguir sentar e pensar apenas naquele momento, no dia maravilhoso, no cheiro das flores, nos pássaros que passam por você ou um latido de um cachorro. Estar ciente da maravilha que é você poder escutar, ver e sentir as coisas ao seu redor.
Pergunta – Em alguns textos de Buda ele fala de construtores, não li o texto original em Páli, mas ele fala “ó construtores”. O que seriam esses construtores? Ele também fala que encontrou o fim do apego, isso porque seria o apego o final dos doze elos?
Monge Genshô – Não, o primeiro é ignorância e o ultimo é morte.
Pergunta – Mas por que ele fala então em se cortar esse ciclo?
Monge Genshô – Veja bem, onde você sofre? Não é no amor, as pessoas dizem que o amor é sofrimento, não é o amor em si um sofrimento, mas sim o apego. Quando você corta a ignorância que é o primeiro elo, também acabaria com o sofrimento, pois porque há ignorância é que se gera o apego.
Com relação à primeira pergunta, o construtor do sofrimento é a mente que ignora e em razão disso constrói um “eu” e porque construiu uma identidade, esse “eu” construído, criando-se um grande engano, é que dá-se a origem ao sofrimento. Você tem apego porque tem um “eu”, mas se você percebesse que todas as coisas são vazias de um “eu” inerente, não haveria, para você, início ou fim de alguma coisa. Não haveria nascimento ou morte, isso é dimensão histórica das coisas, na dimensão absoluta não existem nascimento e morte.
Pergunta – Nesse caso os doze elos são impermanentes?
Monge Genshô – Não existe nada que não seja impermanente. Mas você está preso num ciclo e não consegue sair, pois passa de uma coisa para outra. Você tem nascimento, morte, ignorância e a ignorância gera novo nascimento e o ciclo se repete. Se você obtém uma compreensão perfeita desse ciclo, remove a raiz do sofrimento.
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