(continuação)
Após sua iluminação Buda começa a ensinar, vai até seus companheiros e ensina, faz o primeiro discurso das quatro nobres verdades: a vida é insatisfatória e sofrida, para isso existe uma causa, a qual, sendo removida, não produz mais sofrimento. Qual é a causa do sofrimento? O apego a todas as coisas, os desejos, a mente aquisitiva. Mas o que está abaixo das quatro nobres verdades?
Podemos dizer que sofremos porque temos apego. Somos apegados a amores, a roupas, a carros e quando não temos isso tudo, sofremos. Temos mil apegos. Diz-se que toda a riqueza do mundo é insuficiente para a ambição de um só homem. Por isso o homem pode procurar a felicidade em um apartamento de seis milhões de reais e fazer qualquer coisa para isso. O mundo ao seu lado pode desabar, mas ele pensa que a felicidade está ali e que qualquer manobra é legitima para acumular riqueza. Por isso se enreda em sofrimento.
Mas qual o alicerce do apego? Quem é aquele que tem apego? O “eu”. Quem é aquele que deseja? “Eu”. Quem quer possuir pessoas, coisas e riquezas? “Eu”. Quando não houver mais “eu”, não haverá mais apego. Podemos até pensar que sofremos por sermos apegados, mas nos livramos dos apegos? Como se livrar dos apegos? Os raciocínios que nos fazem afirmar que tudo é impermanente, que tudo vai embora, a ideia de que não podemos nos agarrar a nada nem colocar nossa felicidade nas coisas, pode ser útil para amenizar a dor e nos ajudar a ser mais desapegados e felizes. Mas ainda não atingiríamos a iluminação, pois, para isso, seria necessária a eliminação de todo o “eu”, assim poderíamos engolir o universo, ser um, com todas as coisas. Não há mais, neste contexto, a noção de “meu”, “minha”, “teu”, “tua”. Não existe mais energia de desejos e apegos para produzir frustrações, expectativas e sofrimento.
O eu é uma ferramenta para transitar no mundo, útil como uma roupa, mas não somos nós mesmos. Esse é o segredo fundamental. As motivações e sofrimentos de Buda foram como os nossos, a diferença entre ele e nós, é que ele se libertou de seu “eu”, e a partir desse momento, a única coisa que lhe interessou foi ensinar. Jamais voltou a ser príncipe, sua única missão passou a ser libertar as pessoas do sofrimento. Ele dizia: “Tudo o que eu ensino é o que leva à liberação do sofrimento”.