quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Como bolhas



Todo o universo tem um surgimento cíclico dentro da cosmologia budista. Quando surge um universo, dentro dele há naturais irregularidades, as quais acabam provocando fenômenos que, por sua vez, num crescendo de complexidade, fazem surgir vidas. Essas vidas, quando atingem consciência, dizem a si mesmas: “eu sou”.

Mas o que são os fenômenos? Um bom exemplo são as bolhas dentro de uma garrafa de champanhe. Dentro de uma garrafa de champanhe há gás carbônico dissolvido no líquido, e quando diminuímos a pressão, tirando a rolha, formam-se bolhas. Essas bolhas surgem, se expandem e formam espuma, mas as bolhas em si, quando nós as olhamos, são fenômenos, mas são vazios de um eu. Esse conceito, “vazio de um eu” é muito importante. Vamos examinar o que é a bolha.

A bolha é gás carbônico dentro da água. Quando a olhamos, vemos sua superfície, como se tivesse um invólucro. É como se ela fosse algo, no entanto, ela nada mais é que um fenômeno provocado pela interação entre o gás expandido dentro do líquido, o qual tem uma forma, surge, cresce e desaparece, ou seja, deixa de existir como fenômeno. Podemos imaginar que uma bolha pense, “eu sou independente das outras bolhas, sou separada, sou algo, eu existo”. Mas ela é interdependente, interconectada com todo o gás e todo líquido. Ela é dependente das outras coisas para existir. Nós também somos assim, nós somos fenômenos, somos formas extremamente mais complexas do que uma bolha numa garrafa de champanhe, mas somos fenômenos no universo. No entanto, dizemos a nós mesmos, “eu sou”.

O que o budismo essencialmente ensina é que isso é uma ilusão, pois não poderíamos dizer “eu sou”, visto serem todos os fenômenos no universo vazios de um eu. Não há um eu inerente. Esse eu, que acreditamos tão sólido e nítido, é uma ilusão proporcionada pelo funcionamento da nossa mente. Assim como existe um funcionamento do gás com o líquido na garrafa que faz com que a bolha pareça ter uma existência própria, nós, por pensarmos, por termos memória, por conceituarmos, percebermos, sentirmos, por termos formações mentais e consciência, acreditamos que temos um eu. Esse “eu” é essencialmente ilusório. Se não escaparmos desse “eu” ilusório, não conseguiremos perceber nossa verdadeira natureza nem nos integrar ao universo como um todo. Ficamos a nos imaginar separados do todo.

 Essa ilusão, ignorância fundamental, provoca algo nessa consciência que faz com que ela continue se manifestando repetidas vezes como fenômeno, com as mesmas características e impulsos, conservando-os e congelando-os nas suas existências. Por isso dizemos que existe um renascimento, uma “re-manifestação” cármica no universo. Mas essa “re-manifestação” nada mais é do que a permanência da ignorância: ignoramos que o eu é ilusão. Essa ignorância é que faz com que surja o nascimento e todas suas consequências, como a velhice, a doença, o sofrimento e a morte.