terça-feira, 30 de outubro de 2012

A essência do despertar de Buddha


(continuação)
Todas essas considerações ocorreram a Buda. Embora ele fosse um homem rico, filho de um pequeno rei em um pequeno principado e tivesse tudo como membro da classe dominante: tinha mulheres, comida, palácio, empregados, enfim, tinha todos os confortos que  poderia ter um homem em sua posição. Mesmo tendo tudo isso, Buda se perturbou com o fato de haver velhice, doença e morte. Sabendo disso, ele se questionava sobre o significado de sua existência naquele palácio, com sua esposa, seu filho, as artes de guerra que havia aprendido. Buda era da classe Kshatriya, uma classe de guerreiros imediatamente abaixo dos Bramanes. Ele não conseguia ver significado na sua existência, em uma vida que terminava, inevitavelmente, em velhice, doença e morte, pois, sendo assim o fim, tudo o que fizermos é vão.

Foi assim que Sidharta Gautama Shakyamuni, abandonou sua família, seus pais, seu palácio, causando infelicidade a todos. Ele está então com vinte e oito anos, e vai para uma floresta procurando uma solução espiritual. Durante seis anos Shakyamuni tenta todas as técnicas de ascetismo que eram ensinadas pelos mestres iogues. Com as práticas de jejum severo, meditação e concentração, ele vai atingindo níveis cada vez mais profundos de realização psíquica, mas não vê uma solução final para as questões do sofrimento e do significado da vida; procura denodadamente, mas não encontra. Mesmo que dois mestres se sintam tão encantados com ele a ponto de o convidarem para  sucessor, ele recusa, e segue adiante. Por fim, sentindo-se derrotado fisicamente, sem energia, ele desfalece perto de um rio e uma moça chamada Sujata coloca em sua boca arroz com leite.

Ao voltar a se alimentar, Buda tem sua energia renovada. Senta-se, então, embaixo de uma figueira, que hoje é conhecida como fícus religiosus, cuja folha tem uma longa ponta , e ali fica meditando por sete dias. Ao amanhecer, quando a estrela da manhã está surgindo, Shakyamuni, de repente, acorda das ilusões, e nesse momento, torna-se O Buda, “aquele que acordou”. Ele exclama: “Que maravilhoso é! Nesse momento todos os seres e a grande Terra, junto comigo, atingem a iluminação!”

Qual a essência do grande segredo de Buda? Todas as coisas estão vazias de um “eu”. Eu não vou mais me enganar, nem uma coisa tem um eu, ninguém tem um eu, tudo é vazio de um eu. Este é o significado da palavra vacuidade, o vazio budista: nada tem um eu inerente, todas as coisas são interdependentes e interconectadas. A nossa noção de um eu - que é predominante, que todos agora, aqui sentados, sentem (eu estou aqui, eu sou, eu tenho um corpo, eu abro os olhos e vejo os outros, eu vejo o mundo) - é um engano, uma ilusão provocada pelo funcionamento de nossa mente e pela formação de nossa consciência. Essa é a essência da iluminação de Buda, todo o resto são métodos de treinamento graduais para se atingir liberação do sofrimento, melhor qualidade de vida, treinamento mental. Mas a iluminação de Buda é isso, a liberação de um eu. Enquanto não atingimos a liberação de um eu, não há a iluminação.
(continua)