Aluno: – Tive câncer no rim. Eu tinha dores terríveis e era alérgico à morfina. Isso me fez evoluir um pouco com relação à dor física por já ter tido dores terríveis. Por pior que seja a dor física, não se compara à dor emocional.
Monge Genshô: - Concordo com você, mas a dor física pode causar tamanho desconforto que a pessoa sinta vontade de desistir. Já ouvi isso de pessoas com muita dor. Chega um momento em que a pessoa perde o ânimo, isso, na verdade, é muito mental. Se a pessoa conseguir manter sua vontade de viver, poderá vencer.
Nos campos de concentração, testemunhas contam que sabiam que uma pessoa iria morrer porque ela desistia, perdia a esperança e quando perdia a esperança, morria. Se a pessoa consegue manter forte energia e consegue enxergar seu corpo como algo temporário, isso é maravilhoso, pois pode lhe dar grande liberdade. Temos muitas histórias, como a de monges budistas que se imolaram no fogo em posição de zazen e assim morreram. Para isso é preciso esquecer o corpo e tornar-se um com o fogo. Queimar junto. Não existe um conflito entre as duas coisas.
Mas dores afetivas são muito mais difíceis. As coisas materiais - e aí se inclui o corpo - são mais fáceis. Você pode perdê-las, como pode perder um braço, por exemplo. Se você falar com um pai, ele daria seu braço para o filho com facilidade. Para um pai, é fácil morrer pelo filho. Isso é muito interessante, embora se possa dizer que um filho também seja o prolongamento de um eu.