segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Além de abranger todas as coisas


(continuação)
ainda não é despertar completo...

Aluno – Porque pode haver um apego a esse estado, um desejo de continuar nesse estado de prazer, talvez?

Monge Gensho – Correto, mas tem um ponto importante aí que eu gostaria de ouvir.

Aluno – Porque ele mantém a noção de que existe um eu?

Monge Gensho – Exatamente, porque ele mantém a noção de que existe um eu. É um eu profundamente expandido, abrange todo o universo e todos os seres, abrange toda a forma, parece uma magnífica iluminação, porque a dor de todos os seres é a dor dele, a felicidade de todos os seres é sua felicidade, ele abrangeu tudo, mas ainda não é iluminação completa porque existe a noção de uma identidade.
 Então mais um passo. Esse passo está além da noção da identidade com tudo. Essa identidade, esse apego - vejam, é um grande e magnífico apego, eu o universo inteiro, é bem um grande eu. É necessário andar mais onde até mesmo essa noção de “existo ou não existo”, de “abranjo todas as coisas”, some. Em termos de prática do zazen, quando sentamos para meditar, surgem pensamentos sem cessar, como se fosse um mendigo que batesse à nossa porta sem parar, um mendigo bêbado que pedisse: “Por favor, preciso disso, preciso”. Agarra-nos pela manga e nos puxa todo o tempo. Ele está sempre nos importunando, às vezes conseguimos nos livrar dele e temos um momento de paz, mas ele retorna. Um dia nos voltamos para ele e ele não está mais lá.

Decupada da gravação por Ápio San e revisada por Eleonara San.