terça-feira, 18 de junho de 2013

Samadhi e Kenshô

                                        Noviço raspa os cabelos para a ordenação monástica


Quando fazemos zazen, tentamos obter esta condição chamada SAMADHI, que é essa concentração onde você esquece o passado, esquece o futuro e está aqui no momento presente, realmente imóvel e tranquilo.

Quando você levanta do zazen, o mundo mudou um pouco, porque você foi lá e conseguiu “parar” de gerar carma. Você está sentado ali, não está gerando carma, pois sua boca está fechada, você não está pensando nem planejando e você não está agindo.  E, à medida que você apaga e vê que as coisas não têm a importância que pareciam ter, suas marcas cármicas vão sendo dissolvidas, vão sendo amenizadas, você tem uma mente que você pode reconstruir com novas energias.

Eu treinei energias ruins, depois treinei energias boas, aí, essas energias boas tomaram conta. Fui “me tornando” Monge. Qualquer lugar em que  vou: “Monge”, exclamam as pessoas. Vamos sentar, “Monge”, vamos fazer Zazenkai “Monge”, vamos fazer Sesshin “Monge”, etc. Sempre sentando com os outros porque o fato de ser Monge arrasta você. E esta é a vantagem de ser Monge, é ser “arrastado” para a prática, porque os outros estão pedindo isto de você.

Aí você  fala sobre o Dharma, fala, fala,  o Dharma está dentro de você todo o tempo, aí me deito pra dormir, e sonho, com o Dharma! Então, meu inconsciente também está mudando. Eu não sonho que estou dando tiros

. Isso não existe. Eu sonho que estou falando sobre o Dharma.

Então, SAMADHI primeiro, no zazen. Segundo, KENSHO. Kensho quer dizer: “KEN”, enxergar. E SHO quer dizer verdadeira natureza. “Enxergar sua verdadeira natureza”. A nossa verdadeira natureza não é nossa identidade, nosso corpo, nosso eu, não é. Nossa verdadeira natureza é outra coisa.

Vocês imaginam o mar e o mar tem ondas, não é? A onda passa e a água aqui não se move. Se você colocar uma cortiça sobre a água, ela sobe e desce, a água não se moveu, só passou uma energia, uma onda. Não é? Eu estou falando, faço o ar entrar, vocês ouvem. Mas, não tem vento. O ar não se moveu. É só uma vibração que se transmite de uma molécula pra outra do ar.

Nós somos uma onda no universo. Energias se movendo. Nós somos isso. Daí nós “pensamos” que isso é uma identidade. Só que a água está passando. A energia está passando pela água mas a água não está se movendo. O seu corpo é assim. Em 10 anos mudaram todos os componentes. Todo o cálcio do corpo foi embora e entrou outro. O ferro foi embora e entrou outro. Do seu corpo original não sobra praticamente nada. Foi tudo embora e está tudo reposto, reconstituído. Não é isso?

Então, nós “pensamos” que somos uma onda. Mas na nossa verdadeira natureza, não somos onda, mas sim, o oceano inteiro. Nós somos o oceano, pensamos que somos onda, porque temos uma mente funcionando, uma energia que está se transmitindo e esta energia olha pra si mesmo e diz: “eu sou”. Isto é um engano. Minha verdadeira natureza não é onda. Onda nasce e morre. Nossa verdadeira natureza está além de nascimento e morte. Não tem a ver com identidade. Nascimento e morte não existem, são ilusões de uma onda cármica se movendo no universo.