segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Meu eu construído


2) O Senhor poderia falar um pouco sobre o ego, como o budismo vê o ego?

Monge Genshô – O ego também é uma construção de nossa mente. Porque temos sucessões de pensamentos, sensações, formações mentais e percepções, formamos uma consciência e dizemos a nós mesmos, “Eu existo”. Esse “eu existo” é absolutamente construído e por ser construído por um funcionamento da mente, é uma ilusão que cessa quando a mente para de funcionar. Não precisa ser necessariamente com a morte, pode ser através de uma doença. Ele existe e é necessário para nosso funcionamento na dimensão histórica. Eu tenho meu “eu” de monge, estou vestido com meu manto de monge, estou fantasiado de monge, o que me ajuda a desempenhar um papel nesse mundo - isso é uma construção.

Um dia desses eu estava num local e aproximou-se um frade franciscano vestido com seu hábito e seu cíngulo e, ao vê-lo foi impossível não ter uma sensação de respeito por ele. Mesmo sabendo que isso é uma construção da mente, o respeito não desapareceu, é bom que ele exista, isso permite atuar no mundo. Usamos nossas fantasias de nossos “eus” para poder atuar no mundo, o problema é pensar que somos as fantasias, que eu sou meu nome, meus títulos, minhas roupas, que eu sou aquele personagem que inventei para atuar no mundo. Agarramo-nos ao personagem e sofremos quando ele é ofendido. Se entendermos que o “eu” é construído, ele não poderá mais ser ofendido, se for entendido como uma mera fantasia, não tem importância. Se você coloca uma fantasia de palhaço, sai pelas ruas e as pessoas o chamam de palhaço, você não se importa. Mas se você não se vê como palhaço e é chamado de palhaço, sente-se ofendido. O correto é na hora de um insulto você se perguntar: “Quem está sendo insultado”? Se meu “eu” é completamente construído, não existe ninguém para ser insultado, não preciso me importar. Somente quando me agarro ao meu “eu” é que me importo. Por isso descartar-se do “eu” é tão importante. A maior parte dos sofrimentos desaparece no instante em que compreendermos o “eu” como uma construção da mente, não sólido, não permanente e evanescente.