quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
Um homem como nós
Após esse momento histórico surge um movimento chamado Mahasanghika, que começa a modificar a figura de Buda. De acordo com esse movimento Buda teria uma luz dourada, poderia prever o futuro, seria capaz de ler as mentes, poderia manifestar vários Budas para estar em diferentes lugares, teria excrementos perfumados, etc. Após esse período surge então o Movimento Mahayana. Nos primeiros sutras conta-se que quando Buda senta-se para ensinar ele teria quatro alunos. Nos sutras Mahayana que começam a ser redigidos por volta do Século I a.C., Buda senta-se no Pico do Abutre para ensinar para centenas de milhares de alunos. À medida que o tempo passa Buda vai transformando-se num ser divino. O Zen adotou muitos sutras Mahayana onde aparecem essas narrativas milagrosas, mas para a transmissão oral dos mestres Zen, Buda é um homem como nós. Comeu talvez comida estragada, ou talvez já estivesse doente, teve um distúrbio intestinal, uma violenta disenteria sanguinolenta e morreu desidratado com 84 anos. Ele foi cremado e suas cinzas divididas entre os reis da época. Para nós, transformar Buda em uma entidade divina é o mesmo que diminuí-lo e diminuir a nós e a nossa capacidade de despertar, pois todos somos Budas em potencial e temos a capacidade de despertar por nós mesmos. Somos, assim como Buda, seres com corpos e com todos os defeitos e problemas dos corpos, seres perfeitamente capazes de morrer de disenteria.
Quando Buda morreu os céus não tremeram e nem trombetas soaram, ele simplesmente morreu. Dizem que no momento de sua morte, Ananda, que era um de seus discípulos, chorava copiosamente e Buda lhe perguntou: “Por que você chora”? “Porque o senhor é minha luz”, respondeu Ananda. Buda então o repreendeu e disse: “Seja você a sua luz, não dependa de mim, pratique diligentemente”. Essas teriam sido as últimas palavras de Buda.
A tradição oral do Zen não encoraja a transformação de Buda em um ser divino e sim o reconhecimento dele como um Mestre, alguém com sabedoria, não sabendo todas as coisas do mundo, um homem comum.
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