Todos nós assim como as ondas, os ventos e as xícaras somos surgimentos e manifestações na dimensão suprema. Todos temos uma dimensão histórica. A onda surge e desaparece, tem um antes e um depois. O vento, a xícara e nós homens também. Nossa tragédia e nosso sofrimento é que não vemos nossa dimensão suprema. Olhamos para a dimensão histórica e pensamos que ela é tudo que existe. Pensamos que uma pessoa nasce e morre, surge e desaparece, e nos entristecemos ou nos alegramos. Mas quando olhamos os outros fenômenos da natureza, aos quais não somos tão ligados, e vemos que surgem e desaparecem, que são uma manifestação contínua e infindável de surgimentos e desparecimentos, então aí, vemos a dimensão suprema.
Vemos a dimensão suprema do mar, surgem e desaparecem as ondas, não nos alegramos nem nos entristecemos porque sabemos que o mar se manifesta desta forma. Esse ano vemos as baleias no mar aí em frente, no ano que vem novamente estarão aqui, até que as baleias ou a Terra desapareçam. Surgirão todos os anos. É a mesma baleia? Não sabemos. Sabendo que existem e surgem baleias não nos preocupamos se é a mesma baleia ou não. Apenas vemos seu espetáculo. Mesmo que elas em si tenham uma dimensão histórica nós as vemos como quem vê a dimensão suprema.
Olhamos para o mar como quem vê a dimensão suprema. O que falta é olharmos para nós mesmos é vermos a manifestação, que somos também a dimensão suprema. Se olharmos para os homens e virmos a dimensão suprema, perceberemos que eles não nascem nem morrem, não surgem nem desaparecem. Nós somos a própria dimensão suprema, livres de nascimento e morte. Se enxergarmos a dimensão suprema na nossa própria vida e em toda a vida humana, toda a angústia existencial desaparecerá como por encanto. Estamos apenas brincando de surgir e desaparecer. É como se fossemos participantes de um grande jogo do universo, um jogo de esconde-esconde.
(continua)