quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
Nós somos o céu azul
Pergunta – Estava lendo em seu blog uma resposta que o senhor deu a uma pergunta sobre almas e espíritos, o senhor respondeu com uma metáfora sobre o redemoinho. O senhor poderia explicar um pouco melhor sobre isso?
Monge Genshô – Eu penso que essa metáfora seja muito boa. O redemoinho é movimento, é todo constituído de movimento, movimento do ar que cria o redemoinho, este movimenta a poeira e as coisas ao seu redor e só então você pode ver o redemoinho. Mas, no centro, no olho do redemoinho não existe movimento. Este centro é o eixo em torno do qual tudo gira. Mas o que é esse eixo, tão claro, tão nítido e evidente? Ele é vazio. Inclusive é vazio de movimento, no centro de um furacão não existe vento, não existe movimento. Usei essa metáfora para dizer que nosso eu, que tanto amamos e desejamos vida eterna é como um eixo de redemoinho, do furacão dizemos que tem um eixo, de nós que temos um “eu”, mas esse eu é todo construído pelo movimento, o movimento dos pensamentos. Esse “eu” que tanto acreditamos e queremos que sobreviva dentro de uma alma ou espirito permanente, nada mais é que o desejo de permanência de algo evidentemente fugaz. Nosso “eu” é fugaz. Não existe uma alma ou espírito que o sustente, é tão vazio quanto o eixo do furacão e, no entanto tem todo esse movimento de vida em seu entorno. Mas um dia ele cessa e para onde vai o eixo do redemoinho quando este para? Se vocês olharem para o céu, o ar está ali, nada mudou, sempre esteve ali. O redemoinho foi um movimento da atmosfera. O que precisamos enxergar em nossa verdadeira natureza é que somos atmosfera e não redemoinho, o redemoinho é só um acidente.
Pergunta – Fazendo uma analogia com o olho do furacão. Estaria no olho do furacão a budeidade já que lá permanece como atmosfera tranquila com todos seus elementos?
Monge Gesnhô – A natureza búdica de todos os seres é auto evidente, natureza livre e desperta de todos os seres como, na analogia, a atmosfera. A atmosfera pode manifestar quantos redemoinhos, furacões, ciclones, chuvas e trovoadas que desejar, mas depois que todos os fenômenos cessarem lá estará o céu azul. Nós somos o céu azul e não raios, trovões, furacões, chuvas ou redemoinhos. Se você enxergar essa verdadeira natureza, todo o medo da morte desaparecerá. A atmosfera é eterna o redemoinho é que é temporário. Somos muito maiores do que pensamos, quando pensamos pequeno, pensamos no nosso “eu” e esse “eu” nasce e morre. Se você conseguir enxergar isso com clareza todo o medo de morrer desaparece. Da mesma forma que na atmosfera sempre surgem trovões e redemoinhos, estamos sempre nos manifestando, nos manifestamos de acordo com nosso carma. Sei que é muito difícil de entender, mas assim é o budismo.