Thomas Merton, monge trapista e o Dalai Lama monge budista
Voltando às sementes dentro de nós. Temos sementes adormecidas de tudo, potencial assassino, potencial para o ódio, potencial para a raiva, ambição desmedida, potencial avarento, todas as maldades do mundo estão dentro de nós. Costumamos pensar que somos bons. Dia destes vi uma declaração no facebook, que uso como instrumento para espalhar textos do Dharma, que dizia mais ou menos assim, “Eu queria que o mundo fosse como as pessoas do facebook, em todos os perfis as pessoas dizem que amam os animais, detestam a falsidade, amam a verdade, a honestidade, detestam a corrupção, é um mundo de pessoas maravilhosas”. Se o mundo fosse formado pelas pessoas que postam mensagens no facebook, seria um mundo perfeito. Pelo menos até lermos os comentários... Eu li uma vez sobre uma radio na Itália há alguns anos, que se propôs para o horror e vergonha do país, a permitir, por trinta dias, que todos os comentários e criticas feitos por telefone fossem divulgados ao vivo. Apareceram todo tipo de preconceito, racismo, ódio, insultos, palavrões... os sentimentos mais baixos dos seres humanos, todos expostos por todas as classes sociais e diferentes tipos de pessoas.
Hoje podemos ver isso na internet. Sem a censura, nos comentários, todos podem dizer o que pensam, surge a alma humana exposta. Na melhor hipótese, desde que sabemos que existem essas sementes e pensamentos dentro das pessoas, seria melhor que eles não fossem expressos, melhor que não fossem ditos, porque quando são ditos é como colocar água na semente, elas se tornam mais fortes, outras pessoas lêem e pensam a mesma coisa. Quando esse meu amigo falou sobre o ódio no Oriente Médio e, é claro ele pertencia a uma das facções, eu lhe escrevi dizendo que não era dessa forma que se deveria pensar, a questão era que enquanto as pessoas pensarem que existem Alauítas, Cristãos, Sunitas, Xiitas etc., enquanto eles acreditarem na diferença haverá luta e oposição. Se amanhã todos perdessem a memória, se cada um de cada grupo esquecesse tudo, olhariam uns para os outros e veriam que são todos iguais, semelhantes, habitantes da mesma região, comem o mesmo tipo de comida, falam línguas parecidas, a paz surgiria no mesmo instante. Nada saberiam de religiões passadas nem de identidades nacionais. Seria um único e grande país.
Deste modo vemos que as sementes são criadas pelo fenômeno da energia do hábito, da repetição e da crença. Se acreditarmos numa determinada diferença ela se consolida, como uma semente. As sementes estão dentro de todos nós. Boas e más sementes. Quando dizemos a prática do Zen, “a prática” significa regar as boas sementes e deixar as más sem água, sem terra fértil, de modo que não consigam germinar. Por tanto tempo, que fiquem esquecidas, de maneira que seja muito difícil faze-las despertar.