sexta-feira, 19 de abril de 2013
Samadhi
Devemos confiar nos sons dos instrumentos. Cada som significa que algo irá ocorrer, não espere, dirija-se rapidamente para o local. Nos horários de zazen, sempre temos dois sinais, o primeiro é para chamar, “atenção, haverá zazen!” o segundo é para que todos entrem no zendô. Devemos entrar, sentar, ajeitar-nos na posição, respirar e nos propormos a fazer um zazen verdadeiro. O sesshin é sofrido e cansativo, é assim de propósito. O sesshin é uma crise. Sem comunicação, pouca comida, pouco sono e sozinhos. Mas o sesshin está longe de ser uma lavagem cerebral, ninguém lhe dirá o que você deve sentir e pensar. As instruções são, observe sua mente, traga-a de volta para cá. Essa é sua prática, seu treinamento. É um método. O professor não é um Deus, um profeta, um ser perfeito e nem tem nenhuma comunicação direta com algo superior. Ele simplesmente é mais antigo na prática.
Em japonês, sensei , professor, significa aquele que veio antes. Mas não é necessário aceitar irrestritamente o que o professor diz. O budismo ou zen, não são doutrinas baseadas na fé ou crença, é necessário apenas experimentar, treinar, vivenciar. Quando conseguimos a vivência, podemos experimentar algo. O que seria a experiência? A primeira experiência que estamos procurando é samadhi. Samadhi é um estado de profunda concentração em que você está além do pensar e não pensar e está realmente aqui. Se você mergulhar apenas nesse sentimento, estou sentado e ouço os sons, não estou longe por um fio de cabelo, não penso em ontem nem amanhã, só em agora. Se conseguir ficar nesse agora completamente, é samadhi, é isso que temos que cultivar no zazen. Não caiam na tentação de sentar e dizer, “estou cansado e por isso irei criar uma fantasia e rodar um filme na minha mente”. Isso seria um completo desperdício desse sacrifício no sesshin, cada vez que você se vir viajando, volte para cá. Retorne simplesmente, retorne para esse momento. Não se culpe, não se julgue, não pense que esta fazendo um zazen horrível, volte mil vezes. Acalme-se. Se você conseguir não viajar para passado ou futuro e conseguir ficar somente no agora, isso é profundamente sereno. Não existe nenhuma ameaça, nada. No máximo você sentirá cansaço, sono, dor, aproveite, é o cansaço do agora, o sono do agora, a dor do agora, apenas aproveite, o sino irá tocar, vai terminar.
Embora pensemos, “o jikidô deve estar dormindo, esqueceu de tocar o sino”, isso deve ocorrer na cabeça de todos. A função dele é ser responsável por cuidar do tempo do zazen, isso é um sacrifico enorme, pois atrapalha o seu zazen. Apesar de estar de frente para vocês e poder observar e saber que ele já olhou no relógio, também penso, “deve ter passado, ele esqueceu”. Mas também já penso em outro momento, “o que aconteceu, faz só dez minutos que sentamos e o sino já tocou!” . Isso mostra como foi o zazen. O melhor zazen é assim, você sentou e plim...acabou. Guarde esse zazen, esse foi precioso. O tempo não existe. Quando acontece isso você percebe como o tempo pode ser relativo, elástico, como os quarenta minutos podem ser muito longos e sofridos, mas também podem ser muito curtos.