segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
O sofrimento é um atalho
Não podemos minimizar o efeito de uma boa meditação de quarenta minutos, que é tempo que um praticante mais maduro deve fazer. Então essa prática para a vida diária vai mudando essas questões do que alcançar. Sentir que não alcançou nada também já é muito bom. Porque um dos grandes problemas de quem começa a praticar é pensar que atingiu algo, ele senta-se e pensa – Ah, eu adquiri serenidade – ou – Que bom, eu pratico meditação e sou mais sereno, sou mais “zen” – como se diz na gíria. Há até quem se ache iluminado. Mas isso não tem nada a ver com o zen. Sentar-se e adquirir serenidade é uma prática que poder ser feita de muitas formas e não precisa, em absoluto, ter um objetivo espiritual. A serenidade é apenas um subproduto do sentar-se quieto em meditação, nada mais que isso. É como muita prática de ioga que se faz hoje em dia e transforma-se em ginástica simplesmente, mas que não tem objetivos espirituais, é mera busca de poder e prazer, a ioga com objetivos espirituais é outra coisa.
Então o primeiro que os alunos fazem quando se apresentam é sentar para meditar. Se você não ficar sentado quieto quarenta minutos não vai ouvir nenhum ensinamento, e se não voltar não tem problemas, porque o Zen não é para curiosos nem para pessoas que esperam resultados instantâneos ou uma panacéia, o Zen é para pessoas com a cabeça em chamas. Então tem que haver angústia, porque só a angústia existencial mobilizou Buda para prática, porque estava angustiado largou mulher, filho e foi para o meio da floresta e treinou, só por isso. Então é necessária a angústia, a inquietude e o desejo de se libertar. Por isso esse sofrimento é um atalho para a realização espiritual. E um corpo humano é a grande oportunidade, porque os homens tem as duas coisas, prazeres e dores.
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