quarta-feira, 6 de agosto de 2014
Místico mesmo é andar
Muitas vezes as melhores experiências não acontecem aqui no zazen, acontecem fora do zazen. Então, estejam atentos às coisas fora do zazen? No zazen, nós estabilizamos a prática, a mente, praticamos samadhi, aí, cria-se terreno para surgir experiências melhores, insights mais claros. Não esperem coisas extraordinárias ou mágicas, porque não é isso. Já é mágico estar aqui, comer, sentar, viver, respirar. Isso é muito mágico, maravilhoso. Então, nós já temos magia suficiente, extraordinário suficiente, misticismo suficiente. Não precisamos de mais nada. Místico mesmo é andar, colocar um pé na frente do outro. Isso é muito místico. Lembrem, como um caminho de dez trilhões de léguas, que chega no mesmo lugar.
Então você, ao mesmo tempo que quer chegar em algum lugar, você já chegou. Já é o lugar certo. É como o título daquele livro “O pico da montanha é onde estão meus pés”. Já é agora. Essas ambições são tolas. Na realidade, a maior parte das coisas que a gente vê na vida só é fumaça. Se você tem um evento desagradável, passa um tempo e anos depois você olha para trás... “ah, naquele tempo... naquele tempo... naquele ano” eu perdi minha carteira com os documentos e tive que fazer tudo de novo... nem me lembro mais de todo o processo que tive de fazer. Passou completamente.
Qualquer coisa que aconteça vai passar. Só não vai passar se você fica voltando, angustiado, agarrado naquilo. Se você estiver agarrado, aí sim, aí você sofre. Nós não sofremos pelos nossos amores, nós sofremos pelos nossos apegos. Sempre repito essa frase também, de que a felicidade está disponível. É como sentar em zazen. Está tudo disponível. Você já chegou. Mas a infelicidade você constrói com as coisas em que você acredita. Está tudo dentro da sua mente. A turbulência dentro da sua mente é que você constrói. Ela é que é a infelicidade.
No exemplo aquele da carteira perdida: eu tenho que fazer isso, tenho que fazer aquilo, você tem um monte de incomodações pela frente. Então, o pensamento do “eu tenho que fazer”, isso é o sofrimento. O sofrimento é construído dentro da mente. Se você conseguir lidar com sua mente de uma forma um pouco diferente, o sofrimento vai diminuir muito, se não desaparecer. (Final da palestra, decupada por Rachel San)