Kesa monástico, quadro de Eduardo Salinas |
Pergunta: Porque usamos esse termo “meditação” quando o objetivo não é meditar?
Monge Genshô: É, a palavra em português não reflete bem. É melhor nós dizermos “fazer zazen”, porque quando você diz meditar, parece meditar “sobre” alguma coisa, porque o verbo é transitivo direto, e não é isso que nós fazemos, nós fazemos zazen. Zazen é sem objetivo, também.
Shunryu Suzuki, perguntado sobre “para que serve o zazen”, respondeu: “Para nada”. Aí, algum aluno, esses dias, me perguntou: “Mas por que Shunryu Suzuki disse que o zazen não serve para nada? Porque nós fazemos zazen?” Eu disse: “porque ele também poderia ter respondido, e estaria certo, “zazen serve para tudo”. As duas respostas estão certas.
Zazen serve pra quê? Para nada. Se você quer obter alguma coisa com o zazen está errado. Isso já não é mais zazen. Agora, zazen serve pra tudo? Também serve para tudo, porque você poderia empregar a mente que você treina no zazen para tudo. Mas se você sentar em zazen, pensando “estou treinando para usar em tal atividade”, então não é mais zazen. É uma forma de treinamento mental. Porque tem uma ambição, um objetivo, uma mente aquisitiva, em que você pretende ser melhor que os outros, isso tudo perturba o zazen. Por isso, Shunryu Suzuki respondeu: “Zazen não serve pra nada”.
Pergunta: Monge Genshô, e o termo shikantaza, apenas sentar?
Monge Genshô: É, ele quer dizer isso, shikantaza – apenas sentar. Não tem nada mais do que isso. O que você está fazendo com o zazen? Estou sentado. É como, também, aquele mestre que perguntou para o aluno, que estava sentado: “O que você está fazendo”? E ele disse: “Eu observo minha mente”. E o mestre perguntou: “Qual mente observa e qual mente é observada”? E, com isso, o aluno pôde experimentar um despertar. Qual mente observa? Qual mente é observada? Nós não sentamos para observar nada, porque quando você senta para observar, tem sempre um observador e um objeto observado. Então, a separação está presente, o mundo está dividido. Eu estou aqui e o objeto observado está lá. Eu observo uma coisa. Quando você começa a contar, por exemplo, 1, 2, 3... , você está observando a contagem. Então, você usou uma âncora para parar de viajar, de pensar. É interessante. Pode conduzir a uma boa concentração. É uma técnica viável, mas não é shikantaza. Não é zazen. Na verdade, é aritmética (risos).
Isso é bem importante, porque em muitos lugares se ensina meditação de observação. Essa meditação de observação cinde o mundo, cria dualidade, pode ser preparatória para o zazen. Porque eu estou aqui, não há um abandono do eu. Nós estamos sentados, sentamos em zazen para nada. Volte pra cá, para o momento presente. Nem passado, nem futuro. Não cogite, não julgue, não fique elaborando, porque essas todas são as funções do eu. O eu é que faz isso.