Quadro de Eduardo Salinas |
Ora, na tradição do budismo, havia o costume de você fazer circumbulações em torno do Mestre, você vinha e dava voltas em torno dele, e depois de dar 3 voltas ia à frente dele, se prostrava até o chão e tocava nos seus pés ou os beijava.
Então se nós olharmos as antigas tradições, parece que a pessoa que chegava estava abandonando a si mesma e nesse abandono de si mesmo, então ela conseguia aceitar o mestre como guia. Nós temos no Zen tradição um pouco diferente de outras escolas. Há escolas em que o mestre é colocado num estrado elevado e está bem claro que ele é diferente dos discípulos e as instruções são olhar o mestre como um “guru” e esse ser então seria o reflexo de todas as perfeições, é a prática como um espelho da Guru yoga, muito poderosa se bem realizada, mesmo quando ele faz uma coisa aparentemente errada, os alunos olham e pensam: “ah, este é um ensinamento, ele fez isso por um ensinamento e não por um momento de imperfeição”.
Vocês vejam mesmo que na nossa tradição que conhecemos desde a infância, o cristianismo, Cristo é narrado entrando no templo derrubando as mesas e um dos evangelistas até vê um chicote em suas mãos. E ele chicoteia os mercadores que estão vendendo coisas no templo. Isso nunca impediu todos de olharem Cristo como uma imagem da perfeição, então está justificado seu ato e essa justificação faz do ato também um ato de ensinamento, um ato perfeito.
Esse mesmo tipo de tradição existe em algumas escolas budistas. No Zen isso é diferente. No Zen é assim: o mestre está bem próximo dos discípulos e senta na mesma altura deles. Ele é claramente uma pessoa com imperfeições e declara isso a todo momento. Quando o aluno chega para um professor e diz que tem paixões, o professor responde, invariavelmente: “eu também, eu também sinto isso, eu também sou assim. Eu não sou diferente de você, eu sou exatamente como você”. E por isso tudo é possível, porque Buda era exatamente como nós. Esta é uma declaração constante no Zen - Buda era um homem como nós.