segunda-feira, 25 de agosto de 2014
Eu não sei
Pergunta: Um depoimento muito bonito que uma pessoa, que estava num estado mais elevado... isso pode ser considerado Dharma também? Ou é só quando o monge autorizado fala, que é Professor do Dharma, que podemos dizer que é Dharma?
Monge Genshô: Acho que eventualmente pessoas dizem coisas muito pertinentes e vamos ter que ouvir e ter o discernimento de que ensinamento “reconhecido” tem que ser dado por alguém que recebeu a transmissão. Isso é pelo menos um padrão de qualidade para se dizer: “ isso aqui nós vamos considerar”. Mas mesmo assim, é como se dizia em latim, cum grano salis – com um grão de sal. Porque você aceita um professor e começa a ouvi-lo. Ele vai ajudar você dentro do caminho, na medida do que ele conhece e sabe. Mas haverá algum momento em que o seu caminho não é exatamente igual ao do professor. Eu posso falar sobre experiências que eu tive, mas existem experiências que eu não tive, e eventualmente alguém me pergunta: “O que eu faço nessa situação?” E eu respondo: “Eu não sei. Você vai ter que decidir sozinho, porque é seu carma, sua vida, seu momento. Eu não sei.” Eu posso dizer que comigo aconteceram tais e tais coisas e levo e digo isso, para que você considere que existem essas possibilidades. Posso ajudar você a pensar, mas não posso decidir por você. Até porque é uma responsabilidade imensa.
Esses dias um rapaz disse: “Ah, eu briguei com minha namorada. Eu a procuro, peço desculpas, volto, não volto, tento que ela volte, tenho medo que ela não volte”. Eu disse: “Eu não sei.” São tantas coisas que eu não sei sobre esse relacionamento, do futuro. Como é que eu posso dizer? Não sei. Posso dizer uma coisa com certeza: se acabar, você vai sofrer um pouco e depois de determinado tempo, isso vai passar. Isso eu sei. Que tudo acaba passando. Se no futuro você vai dizer, “ah, não podia ter perdido aquele relacionamento”! Isso eu não sei. Pode ser. Como eu poderia saber? Então, o Dharma é uma porção de ensinamentos bem consolidados sobre impermanência, causa, efeito, sobre as marcas da existência, sobre o carma, mas ele não é uma solução para tudo. E tem várias coisas que Buda evitou responder. Disse: “Eu não vou responder a essa pergunta”. Deus existe ou não existe? Essa pergunta não faz parte do budismo. Trata-se do tipo de assunto não verificável, se é não verificável, então não faz parte do objeto de estudo do budismo. No momento em que for verificável, sim.
Pergunta: Então o Dharma seria somente fenomênico?
Monge Genshô: Não. Ele também tem conceitos abstratos, mas que são lógicos. Por exemplo, o conceito de pecado não existe no Budismo. Porque não existe conceito de pecado? Porque não existe alguém a quem você deva obedecer e que vai taxar de pecado se você fizer isso ou aquilo. Por isso não existe o conceito de pecado. Existem consequências. Qual é a consequência do seu ato? É isso. A ética do Budismo é construída em cima das consequências. Quais são as consequências?