quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Controle sempre vai falhar um dia


5) E o controle,  como não ter controle, como não ter o desejo de controlar as situações na vida, tanto profissional quanto emocional? Lembro de ouvir que a base do samsara é o controle, mas então como sentar e tentar ter o controle de nossa mente?

Monge Genshô – Bom, na verdade é um erro sentar e tentar controlar a mente, o que você deveria fazer é apenas sentar sem qualquer objetivo. O controle sempre falha, quer um exemplo? Quando você diz que não vai mais ficar com raiva, logo em seguida surge uma situação que o leva ao seu limite e você estoura em raiva. O controle não funciona muito bem, embora as pessoas digam que se controlam. O caminho do budismo consiste em eliminar as sementes que fazem surgir o sentimento, no caso da raiva, eliminar todos os motivos da raiva, de modo que quando alguém o insultar, você vê nele uma pessoa perturbada, ele tem os sentimentos negativos, mas não é culpa dele, pois ele está sendo arrastado por um turbilhão de sentimentos. Da mesma forma que você olha para uma criança mimada, você deveria olhar para um adulto enraivecido. Desta maneira, o sentimento de raiva não surge em você não porque você o controla, mas sim porque ele não tem base para se manifestar, não tem terreno onde a semente brotar. Não se trata de controlar, mas sim de mudar seu carma.

Aluno - E num momento desses de extremo conflito com outra pessoa...

Monge Genshô – É bom que você pense em não agir. Existem três níveis: 1) agir com o corpo, que é quando você dá um soco. Se você sente toda a raiva, pelo menos não dê o soco. 2) não fale, não diga nada. 3) o mais complicado, onde tudo seria sido resolvido - não pense, não sinta. Como isso pode ocorrer? Treinamento. Cada vez que os sentimentos surgirem você deve tratar deles desta forma. No trânsito se alguém lhe insulta, você deve ficar calado, nem pense em nada para responder.

Aluno - Mas algumas pessoas ficam ainda mais loucas se não reagimos.

Monge Genshô – Apenas incline a cabeça e peça desculpas. Se alguém lhe insulta, você segue em silêncio e, se algumas quadras depois você esqueceu todo o ocorrido, será ótimo. Eu notei que a prática estava começando a surtir efeito quando mais de  30 anos atrás meu carro foi arrombado. Quando vi, fechei a porta e fui andando para a empresa que trabalhava e ficava a algumas quadras de casa. Quando cheguei à empresa, lembrei que deveria mandar o carro para a oficina, já havia esquecido o ocorrido. Você pode começar a exercitar isso em pequenas coisas, como copos ou pratos quebrados, apenas varra os cacos, não ponha emoções nisto.