segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Sonhos


Pergunta – Segundo Cassirer, o homem é um ser simbólico e Sartre diz que somos livres. O Zen de certa forma fala a mesma coisa quando, por exemplo, o senhor fala do carma e de quanto somos capazes de mudá-lo. O senhor poderia falar um pouco sobre essa nossa liberdade de poder fazer diferente?

Monge Genshô – Somos aparentemente livres. Temos a capacidade de mudar nosso carma, mas na prática o que acontece é que somos arrastados por ele e não mudamos facilmente. A maior parte do tempo somos arrastados pela corrente. É claro que uma pequena decisão tomada hoje, dentro de um fluxo de tempo de dez anos pode gerar uma mudança muito significativa. Mas essa é uma liberdade aparente. Veja o exemplo de Jikiho San, há cinco anos quando ela começou a frequentar a sangha ainda se chamava Bia a chef e, tenho certeza, não esperava que sua vida fosse tomar o rumo que tomou. De pequenas em pequenas decisões ela hoje está de malas prontas para ir treinar em um mosteiro Zen no Japão como monja noviça. Nós temos a capacidade de mudar nosso carma, dá trabalho, mas é possível.

Pergunta – O senhor falou dos sonhos como uma ferramenta, poderia falar sobre os sonhos lúcidos?

Monge Genshô – Com o treinamento da meditação você se tornará cada vez mais capaz de influir nos seus sonhos e até mudá-los. O próprio conteúdo dos sonhos vai mudando conforme sua prática fica mais constante. Eu tenho muitos sonhos Dhármicos. Estou tão envolvido com isso que sonho que estou falando sobre o Dharma. Estou tão envolvido com o Dharma que é com isso que alimento minha mente e desta forma meus sonhos giram muito em torno disso.

Há alguns anos quando eu viajava muito de avião e era comum ter sonhos que o avião estava caindo e esse era um momento de grande angústia. Em uma ocasião estava em Congonhas tinha uma passagem  da TAM, para o vôo 1792, lembro até hoje, um cliente me ligou pedindo que eu fosse vê-lo em Suzano. Como ele disse que era importante, fui até Suzano. Quando cheguei lá esse cliente estava na calçada do Diário de Suzano e me disse: “Soube o que aconteceu? O avião da TAM caiu, morreram todos”. Guardei aquela passagem muito tempo como uma lembrança. Por isso eu tinha sonhos com desastres de aviões, mas um dia em um sonho desses eu estendi a mão para um amigo e sorri, me veio então uma sensação de tranquila felicidade e a partir deste dia meus sonhos mudaram. Os sonhos podem ser um bom instrumento para você testar a qualidade de sua prática. Se você em um sonho, em vez de brigar com alguém, você o perdoa, isso é maravilhoso, pois você mudou a raiz do seu inconsciente. Acordado você poderia pensar que está mentindo para si mesmo mas se acontece no sonho, serve para alertá-lo que não é falso, realmente a prática esta funcionando.