terça-feira, 9 de setembro de 2014

Papéis sofredores


Pergunta: E quando não tem mais jeito de ajudar uma pessoa? Quando o nível de depressão dela é tão grande, que faz até medo ela se suicidar... Os amigos trabalham o tempo inteiro  mas a pessoa não reage...

Monge Genshô – Esta é uma questão muito comum, que sempre é levantada. Por exemplo, uma pessoa perdeu um filho único, e daí toda a família quer ajudar, e fica todo mundo em volta. Então, quem ela é? Ela é a mãe sofredora que perdeu o filho. E se ela abandonar isto, cadê a identidade dela? Ela não sabe, mas precisa ser a mãe sofredora que perdeu um filho para ser importante. Em algum momento alguém precisa chegar e dizer: -“ Chega!”. A vida, o tempo inteiro, se apresenta na frente. Há uma vida e mais outras vidas para viver, você não precisa acabar-se porque perdeu um filho. Minha avó materna perdeu 20 filhos. Ela teve 23 filhos, sobraram três e ela continuou vivendo. Ela era uma avó muito interessante para mim, muito amorosa com o neto. A minha mãe perdeu quatro filhos. E no fim da vida ela dizia “como eu sou feliz, como eu sou feliz”. Sim, muito feliz. Não é necessariamente porque aconteceu algo em sua vida que você está acabado, porque ainda há muita coisa, ainda há muitas vidas para se viver. Agora se você ficar agarrado na fantasia, no papel de sofredor e de vítima, pode ser que este papel seja tudo que sobrou para você, e a atenção dos seus amigos seja preciosa. Imagine, e se abandonar este papel? Será que os amigos vão correr atrás, vão tentar consolar?  Quem sabe vocês estão ajudando tanto esta pessoa, que ela não pode mais escapar deste papel?

Pergunta: Voltando à questão das identidades, como tratar disso com as crianças pequenas?

Monge Genshô – Então, como eu já falei nós precisamos de identidades para transitar no mundo. Então dê a elas identidade. Iluminação é outra coisa que vem depois, mas como ser humano você não vai poder viver sem identidade.