Aluno – O que seria uma
estratégia para disseminar o Budismo e que pode ser canalizado pra humanidade
em geral?
Monge Genshô – Não existe uma estratégia pra difundir
o budismo. O budismo não faz um proselitismo, se fizesse um proselitismo faria
um esforço para ter mais alunos, mas na realidade não posso acreditar que esse
método de treinamento Zen possa se tornar popular. Então vir ao segundo sesshin é
muito importante, porque existe um numero de pessoas que vêm para o sesshin
apenas uma vez na vida, guardam lembranças, têm coisas interessantes para
dizer, mas não repetem essa experiência. Acho que a resposta é que realmente
não existe uma estratégia para difundir o budismo. O budismo é na realidade
muito difundido do ponto de vista intelectual, literário, artístico, a
influência do budismo é inegável, é vasta, mesmo na cultura ocidental. Mas "praticantes"
budistas são coisas muito difíceis de encontrar.
Aluno – O populismo então não
atende o voto de salvar todos os seres?
Monge
Genshô – Nós temos muito tempo pra salvar todos os seres, muito tempo. Mas
nenhum ser será salvo por uma ação externa. Você não pode salvar os seres, você
pode acordá-los para que eles se salvem, mas eles precisam querer acordar. Mas
do ponto de vista budista, não tem pressa. Se alguém está num outro caminho e
está bem, por que você vai interferir? Deixe ele lá. Isso não é um problema do
ponto de vista budista. Nós não precisamos convencer, converter, não precisamos
nada, está tudo bem como está.
Esse “salvar”,
essa palavra “salvar” não tem o significado correto para o budismo. É melhor
usar a palavra “libertar”. “Libertar os seres de suas ilusões” tem sentido, mas
o budismo não tem uma doutrina salvífica, do tipo: “Vou salvar da morte”
através da ressurreição proporcionada por Cristo, por exemplo, que é a doutrina
cristã predominante. Não é isso. Então a palavra “salvar” pode causar confusão quando
a usamos no budismo. Esse é um grande problema de palavras.
Quando o
budismo entrou na China e se traduziram os textos, você tinha que usar palavras,
e onde estavam as palavras disponíveis? No Taoísmo. Então você usava palavras
Taoístas para expressar e acontecia isto, que é um bom exemplo. “Salvar”, no
contexto unicamente budista, se só houvessem budistas, teria um sentido. Mas se
você usa na língua portuguesa, pescando os significados do cristianismo, aí você
vai ter uma confusão. Por isso a palavra “libertar”, fica melhor: “libertar das
ilusões”, é isso que o budismo faz.