Semana passada
alguém pediu para explicar sobre o “Trikaya”. O Trikaya é muito antigo e já
aparece nas primeiras escrituras do Cânon Páli.
O Cânon Páli é
um cânone que foi escrito em língua Páli, que é a língua do tempo de Buda, mas provavelmente
Buda falava o dialeto “Magada”. O Páli é um descendente do sânscrito e pode ser
considerado um sânscrito mais suave. Onde em sânscrito se diz “Dharma”, em Páli
se diz “Dhama”. “Carma” em sânscrito, “Cama” em Páli. A letra “erre” não é pronunciada
e fica uma pronúncia mais suave que o sânscrito clássico, que é a “língua dos
vedas”.
Posteriormente,
à medida que os escritores iam tornando-se mais eruditos, ficou mais natural
escrever os textos budistas em sânscrito e, desse modo, muitos textos foram
transcritos nesta língua, inclusive os textos escritos mais tarde, em chinês,
por exemplo. Grandes obras como Prajna
Paramita já foram editadas em sânscrito e não em Páli. Mas o mais antigo
conjunto de escrituras encontradas, inclusive escritas em folhas de palmeira há
mais ou menos no ano 300 a.C., foi em Páli.
Em Páli, trikaya
significa “OS TRÊS CORPOS”, nesse caso os três corpos de Buda.
Buda deriva do
verbo “Bud”, despertar. Buda não é nome
de uma pessoa, mas sim a qualidade de ser desperto. Por isso dizemos que todas
as pessoas têm a capacidade de serem Buda ou, que somos "Budas em potencial", pois
temos um Buda escondido dentro de nós. Se acordarmos das ilusões, nos tornamos automaticamente
Budas. Portanto, somos Budas em potencial, mas não de fato, porque enquanto
formos sonâmbulos andando na vida, somos pessoas de sonhos, seres do Samsara, o
mundo da perambulação.
Então temos três
corpos de Buda. O primeiro é o “Dharmakaya”, o “CORPO DA VERDADE”. Para
entendermos a figuração disso, o corpo da verdade é imanente por todo o
universo. É como se imaginássemos o céu azul. Podem aparecer nuvens e
tempestades, chuvas etc., mas quando tudo passa, lá está o imutável céu, ele
não desaparece. Ele está sempre presente, embora possa estar totalmente
obscurecido. O corpo da verdade de Buda é o Dharmakaya, portanto. Todos somos
manifestações no Dharmakaya.
O segundo kaya é
o “Sambhogakaya”, o “CORPO DA FALA DE BUDA”, o corpo do esclarecimento, da luz
que ele traz. Imaginemos um lugar completamente escuro, uma noite escura onde
nada se vê. Quando acendemos uma luz, ela instantaneamente revela todas as
coisas, lhes dá cor e todas as coisas começam a ser visíveis a partir desse
instante em que levamos o Sambhogakaya até esse local. É o corpo do ensinamento
de Buda.
O terceiro é o “Nirmanakaya”,
o “CORPO DA MANIFESTAÇÃO”, o corpo físico com o qual Buda se manifesta no
mundo. Como ele possui um corpo físico e
esse lhe é útil para iluminar todos os seres, para se deslocar, comer, aparecer
e ensinar, esse corpo é então o corpo da manifestação física.
Na verdade, Buda
é os três corpos. Quando falamos no Buda transcendente, não no homem, estamos
falando nos três. O Buda é sempre o Dharmakaya, Sambhogakaya e é sempre o
Nirmanakaya, e se manifesta cada vez que se torna necessário para salvar os
seres do sofrimento.