quinta-feira, 14 de março de 2013

Renascimentos


Pergunta – Nós somos obrigados a passar por todos os Reinos?

Monge Genshô – Não. Se você tem a oportunidade de um precioso nascimento humano pode tornar-se um Buda diretamente. Essas são só situações cíclicas. Se você tiver uma vida muito generosa, com muita bondade, acumular muitos méritos, você pode ter um nascimento num Reino Divino de grande felicidade e vai viver assim no Reino Divino até que esse carma se esgote e você recaia. Você tanto pode subir quanto descer. Você tem um precioso nascimento humano agora. Mas você pode executar atos de grande violência e ter um renascimento numa condição infernal. Você pode nascer numa família de terroristas e ser educado para ser um homem bomba, esse seria típicamente um renascimento infernal.
Pergunta – Como estaria nossa caminhada hoje como ser?
Monge Genshô – Essa pergunta não é respondível. Essa seria uma pergunta injusta. Uma pergunta injusta, por exemplo, seria – Já que todas as coisas tem causas, qual é a causa primeira? – então você aponta uma causa e já que todas as coisas tem causa, qual seria a causa dessa causa?
Um imperador perguntou para um mestre Zen onde estava apoiado o mundo. E o mestre respondeu – Sobre os ombros de um grande elefante. E este elefante, onde está? A resposta foi – Em cima de quatro grandes colunas. E essas colunas? Essas colunas estão sobre as costas de uma grande tartaruga. E essa tartaruga? Bom, rei, vamos parar por aqui, daí em diante são só tartarugas! Na realidade essas perguntas não tem resposta filosófica, não são objetos de investigação no budismo, como outra pergunta – Qual era o tempo antes do início dos tempos? – são perguntas não respondíveis.
Pergunta – Existe a possibilidade de antes de ser humano, ser animal, por exemplo?
Monge Genshô – Com certeza. Dei todas as explicações sobre os reinos, mas isso não significa que os reinos sejam assim. Quer apenas dizer que como meio hábil, que se diz em sânscrito, upaya, foi criada uma maneira alegórica de explicar. Não podemos confundir as palavras ou a própria mitologia budista com a verdade em si. O budismo não pretende ensinar uma verdade sobre o universo alem da lei do carma. O budismo é somente um método e não se diz o único método, ou “a verdade”. Mesmo a escola (Yogachara), é uma perspectiva do sistema, uma forma filosófica de explicar. Nela é a mente que produz o universo, simultaneamente, mas para a escola citada existem tantos universos quanto os observadores. Então mesmo dentro do budismo vamos encontrar diferentes apreciações desse tipo. Talvez a escola filosófica mais sólida, que resistiu a todos os embates até agora, é uma escola de 1900 anos, do patriarca da nossa Escola Nagyaharajuna, que é o criador da Escola Madhyamika, a Escola do caminho do meio. E ela não aceita nenhuma afirmação como absoluta. Ele diz – Eu não digo que é, ou que não é, nem que é e não é ao mesmo tempo e nem que nem é e nem não é simultaneamente, e se em algum momento for entendido que eu afirmei alguma coisa, trata-se de um engano. Eu recomendo a vocês que assim que se sentirem mais preparados, leiam atentamente Nagyaharajuna. Temos dois livros publicados em português de Nagyaharajuna, Carta à um Amigo e A Guirlanda Preciosa.