terça-feira, 5 de março de 2013
Querendo vencer a impermanência
O Zen é muito interessante, não é verdade? Não existe ninguém enrolando vocês ou pedindo que vocês acreditem nisso ou naquilo outro. É tudo muito evidente e lógico, porem um pouco difícil de engolir. Todo mundo gostaria de frequentar um local de prática com um mestre que lhes dissesse: “Eu sei de onde você veio e como foi sua vida passada, sei como vai será futuro, posso lhe abençoar, você tem uma alma permanente e eterna e quando morrer irá se encontrar com todos seus entes queridos e serão felizes para sempre”. Imaginem a confusão. Mas é o que todos desejam. Existe uma religião que é o oposto do Budismo. Não existe impermanência de forma alguma. As pessoas se casam para a eternidade. Os filhos estão amarrados à eles, e os filhos dos filhos também. Nada irá acabar, tudo continua exatamente como está agora. E o corpo? Depois de morrer, na ressurreição, você recebe um corpo novo no auge de sua saúde física e mental, para sempre. Eles foram dando as pessoas o máximo de esperança na continuidade de uma alma imortal. É uma religião que está dedicada a resolver todas as angústias existenciais. Nesse sentido não é diferente das outras religiões, todas as religiões tentam tirar a angústia da morte. Qual o grande problema do budismo? É que você vem aprender e ele, lhe diz que estas coisas são ilusões de um eu que, temporário, quer se tornar permanente.
Pergunta – Mas mesmo Buda em sua busca tinha como objetivo escapar do sofrimento e da angústia.
Monge Genshô – Exatamente isso. Ele desejava resolver o problema da finitude. Só que ele resolveu de outra forma, ele despertou e disse para seu “eu”: “Você não me enganará mais”. Ele também tinha um “eu” desejando ser permanente. Mas ele conseguiu enxergar além do eu, além de nascimento e morte, ele enxergou que não era um redemoinho e sim um céu azul.
Mas isso é muito difícil de ser conquistado, pois todos queremos acreditar em nosso sonho pessoal, eu separado dos outros e quero continuar a ser “eu” para sempre. O “eu” resiste desesperadamente a sua aniquilação. Para complicar mais ainda, não é possível viver nesse mundo sem um “eu”. Eu preciso de meu “eu” e de minha personalidade para falar para vocês. O “eu” é uma ferramenta útil, mas esse “eu” que fala para vocês é só uma manifestação temporária e não minha verdadeira natureza. Intelectualmente é até fácil de entender, mas então vem as perguntas e para os mestres é fácil perceber que dentro da pergunta existe um “eu”, logo, isso não foi realmente entendido. Por isso os mestres fazem perguntas, para descobrir se dentro da resposta existe um “eu”.
Nas entrevistas com o mestre, por exemplo, com Saikawa Roshi, ninguém vem apresentar uma descoberta, as pessoas sempre vem com perguntas que comprovam a existência de um “eu”, portanto, não existe ali um entendimento de fato, ainda não aconteceu uma descoberta. Saikawa Roshi sempre me pergunta, “Você traduziu corretamente o que eu falei, então por que ninguém vem me mostrar nada?”. Como as pessoas vivem em mundo de sonhos só fazem perguntas sobre o sonho. Quando a pessoa pergunta, “Eu tenho um filho e tenho medo de perdê-lo, o que eu faço?”, esse é uma pergunta de um “eu”. Isso foi construído desde a primeira infância.
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