quinta-feira, 21 de março de 2013

A mente que se agita



(texto) “O celebre koan da flâmula batida pelo vento de Hui Neng, é uma clara ilustração do tema. Um dia, quando escutava uma leitura sobre o budismo em outros tempos, se levantou subitamente um vento que começou a tremular a flâmula da porta do templo, então teve lugar um incidente relatado no koan. Quando estava ali o sexto patriarca. “

(comentário) O sexto patriarca chinês, o sexto patriarca depois de Bodhidharma, nós o recitamos pela manhã, na linhagem, o nome de Hui Neng.

(texto)“O vento começou a tremular a flâmula, dois monges começaram a discutir sobre aquele fato. Um apontou e disse – Olhe, a flâmula se agita! – respondeu o outro – Não, é o vento que agita! - discutiram interminavelmente sem poder alcançar a verdade. Bruscamente Huing Neng pôs fim a estéril discussão – Não é o vento que se agita, tão pouco a flâmula, honoráveis irmãos, são vossas mentes que se agitam! – e os monges calaram-se. A meu ver, aqui temos o caso mais claro de interiorização do exterior. O vento sopra na mente, a flâmula tremula na mente, tudo sucede na mente, nada fica no exterior da mente. A flâmula batendo ao vento, deixa de constituir um acontecimento que sucede no mundo exterior, o acontecimento inteiro e, implicitamente, o universo inteiro, se interioriza e se representa como constitutivo do espaço interior.

Tao Shu perguntou ao seu Mestre Nan Chuan quando ainda era um noviço – Qual é o caminho? – ou - Qual é a realidade absoluta? – o mestre respondeu – A mente comum, este é o caminho. – desta celebre formula o Mestre Wu Neng deu uma interpretação poética em seu comentário ao koan – As flores perfumadas na primavera, a lua prateada no outono, a brisa fresca no verão, a branca neve no inverno, se a mente não se turva perante perguntas banais, cada dia será um instante feliz na vida dos homens.”

(comentário) Nós podemos, agora, pensar sobre o que tem acontecido nesses zazen que vocês tem feito aqui. Zazen de uma hora e meia, duros, cansativos, doloridos. Eles são propositais, fazem parte do treinamento de sesshin. Não é para ser fácil, é para ser duro, porque se for agradável e fácil, mais espaço ainda tem a mente. Por que nós usamos costumeiramente essas palavras, “vamos nos divertir”, “vamos nos distrair", não é? Divertir significa diversificar, fazer coisa diferente do que você esta acostumado a fazer. Estou acostumado a trabalhar no escritório, então vou me divertir fazendo jardinagem, isso chama-se divertir. E vamos nos distrair é exatamente o contrário de vamos nos concentrar. Vamos nos distrair e deixar nossa mente voar. É necessário alguma coisa para ocupar nossa mente senão ficamos entediados, chateados, não sabemos mais o que fazer. O sesshin é o contrário disso tudo. Tudo é propositalmente feito de forma a ser entediante. Andar em kihin é meio passo cada vez, para, respira. Se o ritmo da respiração estiver correto, serão quatro a seis passos, de 20 cm por minuto. A meditação é imóvel, corpo parado, a instrução é “tente não se mover” para que a mente não se distraia com nada, para que o corpo não informe nada à mente. Um cheiro uniforme de incenso na sala, nada de música, nem instrumentos musicais, nem revistas, nem livros. Essa distração nos é roubada no sesshin, quando sentamos para comer as refeições são iguais, vocês ainda não sentiram isso exatamente, mas imaginem repetir as refeições com o mesmo ritual do oryoki, exatamente o mesmo, semanas. A comida tem menos sabor, são só três pratos e muitas vezes está fria. Se a gente não pensa, não interrompe, colocam comida demais para nós e nos arrependemos de ter tanta comida, porque nada se pode deixar. Não há líquidos durante a refeição. Não esqueçam de beber água ou chá durante os intervalos para evitar desidratação. A ausência de líquidos tem o objetivo de manter a atenção no mastigar, depois de lavar as tigelas você pode beber a água. E essa água tem o sabor “do alimento dos deuses”. Por que? Por que nossa mente pode fazer com que tenha. Se dissermos – Essa água com que lavamos nossas tigelas tem o sabor do néctar celestial! – então, tem. Por isso tem uma lição inclusa, que está contida nisso que estamos falando, que é que nossa mente tem a capacidade de transformar todo o mundo, basta que nós queiramos fazer essa transformação.