quarta-feira, 13 de março de 2013

Os reinos



Sobre a pergunta, a cosmogonia budista divide o mundo em reinos e estes são os Reinos dos Infernos, dos Fantasmas Famintos, dos Animais, dos Humanos, dos Semideuses e dos Deuses, esses reinos estão presentes no nosso mundo e podemos vê-los com certa facilidade. Se abrirmos nossos olhos veremos pessoas vivendo no Mundo dos Infernos, o que caracteriza o Mundo dos Infernos? A raiva, o ódio, nenhuma compaixão. Os lugares onde se matam pessoas, os nossos dias. O terrorista está no mundo dos infernos, compaixão zero, ele mata crianças, adultos, pode inclusive se matar junto. Para realizar sua tarefa não existe compaixão pelos outros. Então a primeira maneira para sair do Mundo dos Infernos é ter compaixão. Uma imagem é um mundo infernal todos sendo torturados, empurrando uma carroça na lama e ninguém sai dali, daquele inferno. Mas um dia um cai, e outro em vez de simplesmente pisar em cima do corpo caído, larga tudo e ajuda o caído. Nesse momento ele sai do mundo dos infernos, no exercício da compaixão é que o Mundo dos Infernos é abandonado.

O segundo mundo, o dos Fantasmas Famintos, a imagem é de seres com corpos do tamanho de montanhas e gargantas como fios de cabelos, eles morrem de fome e de sede e não conseguem comer ou beber. Esse é o mundo dos insaciáveis, pessoas que não conseguem saciar sua fome ou sede de qualquer coisa. Esse dois mundos podem ser vistos diariamente na TV. É o mundo do crime. Aquele que vive e pratica o crime e morre com aquela mente, novamente se manifestará num mundo infernal, num mundo de ódios e de raiva, onde só existe isso. Ele nasce num lugar de guerra, onde seu carma só consegue se manifestar, um lugar onde haja crimes, armas, mortes, sangue, ele quer vingança, que é uma característica do Mundo dos Infernos. O Mundo dos Fantasmas Famintos, lugar de pessoas insaciáveis, pode ser visto, por exemplo, num bingo ou cassino. Pessoas que dia e noite jogam se parar, querendo ganhar algo, ambiente com fumaça, bebidas, sem relógios para que não se perceba o tempo passar, lugar onde todos querem ganhar algo para si, não existe nada sobre partilhar. A máxima do Mundo dos Fantasmas Famintos é não partilhar, é querer tudo para si e ao querer tudo para si, nada será satisfatório. Um mundo de grande infelicidade, grande angústia.

Essas pessoas sempre tem renascimentos em situação de privação, pois não possuem mérito suficiente para que seu carma se manifeste em mundo onde exista abundância e facilidades. Como ele possui grande ambição só consegue se manifestar nos lugares de privação. Mesmo que você dê para uma pessoa com essa marca cármica, uma grande quantidade de dinheiro ou prêmio, esse valor desaparecerá de suas mãos, pois ela não consegue operar de forma a produzir abundância.

O Mundo Animal é caracterizado pela obscuridade, pela não compreensão, não clareza. As pessoas que tem essas marcas cármicas operam num mundo onde as soluções são buscadas através de magias. As pessoas acreditam que irão conseguir determinada coisa através de simpatia, de uma formula mágica, através de uma oferenda, doação para uma divindade obscura qualquer, todas criadas pela mente. Sempre com a tentativa de alcançar alguma coisa de uma forma não operativa, que não funciona na realidade, e é apenas imaginária. Essa é a característica da obscuridade, não compreensão, uma sensação de individualidade, grande egoísmo, como um cão que rosna quando alguém vai pegar seu osso, mesmo que você queira ajudá-lo tirando-lhe um osso envenenado, ele irá rosnar, pois não pode entender o que está acontecendo, pois opera no mundo de forma reativa.

O quarto reino é o Mundo dos Homens, no qual nós estamos, é caracterizado pelo apego, pelo desejo, e também por situações mistas. Dentro do Reino Humano existem características dos outros reinos e também dos reinos mais elevados e você tem como escolher. Você pode, como manifestação humana, escolher ser egoísta ou generoso, vingativo ou compassivo, você tem escolhas. Você pode transitar em ambos os mundos, essa é uma característica do Mundo dos Homens. E o mundo humano tem sofrimentos justamente por causa dessa característica. Como ele tem sofrimento, ele sacode as pessoas e dá oportunidades para as pessoas se realizarem. Então no Mundo dos Homens o Dharma surge e é ouvido com mais facilidade até do que em reinos superiores. O mundo humano, por ter sofrimento, é o mais precioso nascimento, porque permite a libertação das condições anteriores e permite uma realização direta.

Vamos examinar os reinos acima do reino humano. O Reino dos Semideuses pela luta, é sempre competitivo, e por grande poder. Ao mesmo tempo eles tem meios, tem armas para obter suas coisas. O Mundo dos Semideuses pode ser observado, no mundo humano, naquelas pessoas que tem jatos particulares, muito dinheiro e podem realizar coisas com facilidade, o Dharma fica difícil para eles, a realização espiritual fica difícil porque tudo está disponível e eles tem sensação de grande poder , o jogo da competição é muito inebriante e por querer ganhar esse jogo a pessoa mergulha nele e não consegue mais escapar.

A imagem mítica no budismo é os Semideuses atacando os Deuses, sempre querendo obter as riquezas dos Deuses. Os Semideuses estão sempre querendo ser Deuses, mas perdem-se em seu poder, sua vaidade e tentar adiar todas as coisas que seriam do mundo humano. Os Semideuses fazem muitas operações plásticas, compram objetos valiosos etc. e não tem limite para a ambição.

Temos depois então, o Reino dos Deuses, estes nem precisam competir, eles tem tudo. Os deuses estão além dos mundo da competição, é como se já tivessem nascido numa situação de grande abundância, tudo é muito fácil, parece que as coisas caem na mão facilmente das pessoas que tem os méritos de um carma divino. Mas esse méritos se esgotam e também decaem, vão sendo usufruídos mas vão decaindo. E também os Deuses, mesmo que vivendo por longo tempo em abundância e felicidade, de nenhuma dificuldade, eles um dia morrem. E os outros Deuses não querem saber deles quando seu carma se esgota.

O grande problema do Mundo dos Deuses e Semideuses é que embora tenham condições melhores do que os humanos, do ponto de vista material, eles tem poucas marcas de sofrimento, assim é muito difícil ouvir o Dharma, é muito difícil praticar nessas condições. Então os budas, mesmo que preguem aos Deuses, não são ouvidos. Os Deuses ouvem o Dharma e dizem – Que maravilhoso, que lindo que é o Dharma, vou fazer uma doação para esses budas – e assim produz mais méritos, mas ele mesmo não consegue praticar, joga flores no dharma, mas não pratica porque falta inquietude, angústia e sofrimento. Aqueles que tem inquietude, angústias e desejo de solucionar a vida, esse sim irão fazer sesshin (retiros). Tem a marca do mundo humano.