segunda-feira, 8 de julho de 2013
Vivendo na mudança
(continuação)
Nós corremos dos sofrimentos, porque fugimos dos sofrimentos, (do tigre) e caímos em um precipício. Nos agarramos tenazmente à vida, mas se prestarmos atenção, o dia e a noite, roem as raízes da existência e nós vamos cair, é só uma questão de tempo. Na verdade a vida é doce e bela se soubermos aproveitar o momento. Percebam, é muito bom estarmos sentados nas cadeiras agora, não é maravilhoso? Sintam essa maravilha, agora os joelhos não doem e podemos nos encostar, não é uma felicidade isso? Então, o sofrimento que nós enxergamos na vida é temporário, impermanente e é construído por nós.
Como? Ele é construído como Buda nos ensinou dentro das “Quatro Nobres Verdades”. Existe uma causa, a causa é nosso apego. Nos agarrarmos à coisas flutuantes querendo que elas sejam estáveis; nos agarramos ao arbusto querendo que ele seja firme e sólido e nunca caia. Mas isso é impossível, pois não é da natureza da vida, a natureza da vida é ser instável, nada é certo. Para sabermos viver temos que olhar nossos projetos como instáveis, nossos negócios como vendáveis, como falíveis, nossos empregos como passíveis de se perder, nossa saúde como passível de ser perdida.
Se virmos que a vida é toda instável e não sólida, então, não poderemos construir nossa felicidade nos agarrando à fantasia de uma estabilidade. Temos que considerar todas as coisas como findáveis, amores, pessoas, filhos, casas, empregos, negócios, empresas, todas as coisas são flutuantes e a felicidade não está em esperar que elas sejam boas, estáveis e firmes, pois elas não serão.
A vida é um fluxo cheio de coisas boas e ruins acontecendo. Podemos olhar para nosso país e nos perguntarmos: “por quê tanta corrupção, por quê as coisas não funcionam, por quê?” Mas estamos perdendo de vista o fluxo da vida. Este país começou com um genocídio, começou com os europeus espalhando roupas de pessoas infectadas com varíola aos índios, para os verem morrer em grande quantidade. Nações inteiras, como os Tamoios, foram liquidados assim. Existe um quadro do Vitor Meirelles, “O Último dos Tamoios”, que quando eu era criança olhava e pensava: “por que o último dos Tamoios”? Simples, porque não sobrou nenhum.
Sim, o mundo hoje não é bonito nem bom, mas só podemos entender como é melhor se olharmos para trás e vermos como foi e como agíamos no passado. Hoje há indignação com o mal, antes não existia. Era visto com natural. Então, não é um mundo bom, mas melhorou algo. Se olharmos o fluxo das coisas poderemos entender que há uma mudança contínua e temos que viver na mudança, pois está tudo mudando e nós mudamos junto, estamos aceitando toda a mudança sem lágrimas, porque é assim, este é o fluxo da vida e tudo que nos resta realmente na vida é comer os doces frutos vermelhos.(referência ao conto zen do precipício contado na postagem anterior)
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