quinta-feira, 4 de julho de 2013

Explicação não é budismo, é ciência


P: Fico me perguntando: qual a explicação que o Budismo dá para o surgimento do ser humano de forma tão “perfeita”, pois no cristianismo existe a figura de uma “cabeça pensante” que fez tudo isso. Como aconteceu essa evolução no Budismo? Qual a explicação?

Monge Genshô:  Em primeiro lugar o Budismo não se dedica a dar explicações. Segundo lugar, a ciência hoje, tem explicações bastante boas. E, pessoalmente, eu acho que a evolução das espécies está muito bem comprovada historicamente. Como  acontece? Através do tempo. As pessoas dizem assim: “Ah, mas eu não vejo evolução acontecer”. Como você não vê? Estamos criando novas raças de cachorros todos os dias. Temos animais e plantas que sem o homem nem sobreviveriam. O trigo atual se você deixar sozinho ele desaparece porque a semente não cai, porque escolhemos selecionar sementes que não caem porque são melhores pra colher. E assim por diante. E assim também com os seres humanos. A nossa “matriz” é toda africana. Nossos antepassados de 200 mil anos atrás, você olharia e diria: não, não é um ser humano.

Em algum momento, nós começamos a parecer humanos, mas, se você recua no passado, não é tanto tempo. 200, 300 mil anos atrás, ocorreu o surgimento da espécie do homosapiens. Então, houve evolução lenta, e nós dizemos que nosso corpo é magnífico, perfeito, etc, mas, é não olhar bem pro corpo. Ele funciona muito mal, espinha fraca para andar em pé, pelos corporais diminuindo porque não são mais necessários, calvície, 5% das pessoas tendo episódios alucinatórios na vida etc...

Pergunta: não, mas não foi este o contexto do “ser humano perfeito”, e sim, que em algum momento, pra termos chegado nessa evolução, temos que ter sido no mínimo uma ameba, e alguém tem que ter criado isso ou isso veio de “poeira das estrelas”?

Monge Genshô:  Não, mas isso não é budismo, ok? Tem um experimento famoso dos anos 60, quando alguém colocou num vaso substancias que ele deduziu que eram presentes na terra inicialmente. Metano, carbono,  outras substâncias. Colocou num vaso e com  faíscas elétricas,   essa experiência foi repetida muitas vezes em outros lugares. Essas substâncias químicas, depois de algumas horas, começam a  formar na parede do vaso uma película marrom. Essa película marrom é constituída de aminoácidos, os prercurssores da proteína. A experiência é a “sopa primordial”, bem conhecida. Então, o que quero dizer é o seguinte: ao que parece, dado o tempo e determinadas condições, você juntando elementos corretos, a vida começa a surgir expontâneamente.  E a vida vai fazendo experiências assim, de existência. Mutações, surgimentos, cada vez mais complexos. Nós vemos os surgimentos agora, vírus novos surgem a todo instante. Esse processo continua na vida. Você levando este processo a 2 bilhões e meio de anos que é um tempo inimaginável pra nós, surgem indivíduos suficientemente complexos. Cada vez mais complexos. E vão mudando. Nós estamos mudando. Os testes de Q.I. mostram que, do início do Século XX pra cá, há uma mudança de 20 pontos. Aquelas pessoas que eram consideradas normais em 1920, hoje são consideradas lentas, têm Q.I. 80. As pessoas que eram consideradas de inteligência superior, com 120 pontos, hoje são consideradas normais. Interessante isso. Nós viemos mudando rapidamente.

Na verdade a humanidade vem mudando tanto que por ex,  as cesarianas,( nós estamos no limite da capacidade da mulher deixar passar na pélvis uma cabeça do feto). Se você deixa livremente, há uma mortalidade por enquanto discreta mas que seria proibitiva com um crânio maior. Porque a cabeça foi crescendo e está num ponto quase limite para o parto normal.

E isto é evolução chegando nos seus limites possíveis. O corpo feminino já foi sacrificado no seu funcionamento para privilegiar a reprodução, problemas que o homem não tem. Caso da articulação de ninar, nas pernas, ao correr, as mulheres as jogam para fora por causa da largura do quadril.

Então tem um monte de coisas a serem consideradas a este respeito mas eu posso te dizer, que ao que parece, a vida surge expontaneamente e vai caminhando em direção a uma maior complexidade. O Budismo surge porque há sofrimento. Aí surge a descoberta do Dharma. O que o Budismo é pra mim ou o que Buda foi pra mim, foi um grande gênio. Porque ele teve a coragem de quebrar TODOS os paradigmas e dizer: eu não sei, não acreditem em mim, vou ensinar não baseado em fé, etc, e ensinou baseado em raciocínios, nessa maneira de pensar. Me sinto muito bem dentro do Budismo porque posso dizer assim: “eu não sinto conflito com a ciência, que é o que eu sentia todo o tempo quando estive em outras religiões”. Um conflito tremendo com a ciência. E isso o Budismo não tem. Ao contrário, a ciência está cada dia mais se aproximando do budismo. Cada coisa que acontece dizem: “ah, mas o Budismo já dizia isso no passado”. Aconteceu com a física quântica, psicologia etc.

Mas isso não é Budismo, é ciência. E espero que seja útil este pensamento racional, porque nós Budistas não precisamos entrar em conflito com a ciência e dizer: “ah isso é dogma, é crença”, e é assim porque é, ou é mistério”. Mistério não nos interessa. O que a gente não sabe dizemos: não sei. O budismo não se dedica a dar respostas sobre assuntos não verificáveis.