terça-feira, 22 de julho de 2014
Vida correta
Pergunta – O que o senhor entende por um modo de vida correto?
Monge Genshô – É um modo de vida que não cause sofrimento aos outros seres. Uma profissão que não cause destruição e sofrimento. Profissões como caçador ou magarefe não podem ser consideradas um modo de vida corretos. Um modo de vida que ajude os outros seres é um modo de vida correto e que não seja um impeditivo à iluminação.
Pergunta – Esse era o sentido de minha pergunta, trazendo as escrituras para os dias atuais, eu que trabalho na UFSC, não me sentiria à vontade desenvolvendo um projeto para uma indústria química, por exemplo, que causa em geral, muitos estragos à natureza e consequentemente à todos os seres humanos.
Monge Genshô – Você deve decidir. Não tenho uma resposta pronta para resolver essa questão para você. Pode ser que você realize um grande projeto que muda a visão e o modo dessa empresa atuar. Quando Oppenheimer ajudou a desenvolver a bomba atômica, a ideia era de que fossem sacrificados talvez cem mil japoneses e o Japão se rendesse, poupando a vida de milhões de soldados americanos e mais alguns milhões de soldados japoneses. Tendo isso em mente, a bomba parecia algo bom. Depois de jogada a bomba, Oppenheimer pediu demissão. Pairava sempre a dúvida da real necessidade do uso da bomba desta forma, por exemplo, poderiam ter feito uma demonstração do potencial da bomba evitando que pessoas inocentes fossem mortas.
Outro fato que ocorreu após isso, foi uma corrida dos países para construir suas próprias bombas. Você teria que se colocar no lugar de Oppenheimer e se questionar sobre várias coisas, por exemplo, se a Alemanha tivesse desenvolvido a bomba antes dos americanos? É muito difícil de responder, ou melhor, parece fácil dar as respostas, pois quando se está de fora, tudo parece mais simples. Mas é preciso conhecer todas as variáveis. Você, dentro na universidade, desenvolvendo seus projetos terá que pensar o que fazer e mesmo assim, você nunca terá certeza absoluta que sua decisão foi acertada.
Pergunta – Nós que temos então, que pesar entre o absoluto e o relativo, uma vez que não existe o certo e o errado?
Monge Genshô – Dependendo da circunstância as coisas mudam. Matar é errado, mas se para salvar cinquenta mil vidas você tiver que matar um terrorista, por exemplo, isso é certo ou errado? A princípio matar é errado, mas para produzir arroz tem que matar, pois para cultivar o campo você vai matar alguns animais que estão na terra. Não é tão simples. Nos dilemas morais você pode aplicar um princípio que é: “qual o menor mal, para o maior numero de pessoas”? Sempre deverá haver um critério. Por exemplo, estamos num barco e para que o barco não afunde e todos sobrevivam uma pessoa deve pular na água, quem será? Qual o critério? Pode ser, por exemplo, o mais velho. Esse tipo de problema existe há muito tempo, não é verdade? Normalmente é primeiro mulheres e crianças. Por quê? Porque crianças têm mais tempo de vida e mulheres são progenitoras, são as que geram a vida. Nessas decisões sempre pesa um valor que sirva para toda a sociedade e não apenas para um indivíduo.
Pergunta – O carma pode ter um peso menor conforme o nível de esclarecimento da pessoa? Por exemplo, duas pessoas cometem erros que irão gerar carma, o mesmo tipo de erro, porém uma é mais esclarecida, seu nível de consciência é maior, o carma sofrido pelo mesmo tipo de ato será pior, vamos dizer assim, para a pessoa mais esclarecida?
Monge Genshô – As consequências serão diferentes. Quanto mais consciência, mais culpa e mais a pessoa terá a tendência a se punir. Quanto mais inconsciência, menos consequências morais. Um índio, por exemplo, que vive na floresta e necessita caçar para alimentar sua família, é diferente de uma pessoa da cidade. Mas o ato em si tem um peso por si mesmo, ou seja, mesmo que você não esteja consciente que seu ato é errado, ele gera consequências. Pode não ser a mesma consequência de alguém que se sinta culpado, mas o ato gera consequência da mesma forma. Outra coisa importante é que o fato de você não se lembrar do ato, não significa que não sofrerá as consequências. Há um detalhe que parece difícil para as pessoas entenderem, existe hierarquia entre os seres. É diferente você matar um médico que salva vidas ou matar um estuprador. Tanto maior é seu crime, quanto maior o prejuízo que você causa à sociedade ou ao mundo como um todo. Algumas pessoas pensam que matar é igual, não é. Por exemplo, quando você vai ao banheiro e lava suas mãos está matando bactérias. Qual o peso dessa sua ação? Baixíssimo, pois é mais importante que você tenha suas mãos limpas para não contaminar outras pessoas. Por isso existe uma relação de grandes crimes que causam grande marca carmica, matar o pai, matar um Buda, ferir um Buda ou um Bodhisattva e causar cisão na sangha.