segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Impermanência é o que nos faz livres?
P: É justamente por nada ser fixo e essencialmente concreto que somos livres?
R: Não, somos livres se acordarmos, a impermanência ainda é uma qualidade das aparências, do mundo condicionado.
sábado, 29 de agosto de 2009
Abandonar o galho
"O macaco busca a lua na água
Até que a morte o encontre, não desistirá
Se apenas abandonasse o galho e sumisse no lago profundo
O mundo inteiro brilharia com surpreendente claridade"
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Coffinman - O livro
"Coffinman: O diário de um budista, de Aoki Shinmon. Shinmon Aoki é forçado por circunstâncias financeiras extremas a um trabalho em uma das profissões mais desprezadas na sociedade japonesa, a de nokanfu, quem lava e prepara corpos para a cremação. Olhado com vergonha pela família e pelos amigos e tomado por sua própria repulsa inicial ao trabalho, Aoki joga-se a sua tarefa com um fervor que atrai a atenção do povo da cidade, que lhe dá o título de Coffinman (O Homem dos caixões).
Nesta autobiografia espiritual budista, Aoki faz a cronica de sua progressão da repulsão a uma compreensão gradual da tranquilidade que acompanha a morte. Ajuda o não iniciado a ganhar uma visão dos princípios básicos do budismo e de seus conceitos da morte e na morte.
O autor Shinmon Aoki é o autor de duas coleções de poesia e de uma seleção de ensaios em japonês. Vive em Toyama, Japão." (Extrato da resenha da editora)
O livro originou o filme A Partida, que a Comunidade Zen Budista de Florianópolis assistiu na quinta feira no CIC e que ganhou o Oscar de Melhor filme estrangeiro este ano. Tanto a história inusitada, a atuação primorosa dos atores, a fotografia, e a emoção digna mas intensa, são características que fazem do filme uma recomendação para todos.
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
Luto
,
Mensagem a uma pessoa que lamenta a morte de um ente querido e que sente-se desiludida quanto a todas as formas de religião, pergunta ela: - Seremos seres sem sentido em nossas vidas?
..........................
à luz do Dharma sofremos porque desejamos que as coisas impermanentes, como a vida, sejam permanentes, a solução para este sofrimento é a liberdade e esclarecimento da iluminação, com ela percebemos que não houve esta morte que você lamenta, que na verdade seu ente querido, assim como todos os seres, estamos aqui para sempre, pois partilhamos de uma unidade perfeita, sendo o nascimento e a morte nada mais que ilusões. Esta compreensão, quando completa, nos liberta de todo o sofrimento.
Olhe pela janela, junto com as folhas das árvores, ali, está seu ente amado, olhe suas mãos, ele é você, nada está perdido, porque nada surgiu, tudo sempre esteve aqui e nada vai embora da unidade.
Mas compreendo seu sofrimento e de todos que amam, e também me entristeço de que haja tais dores no nosso mundo, e tento entender que nós as criamos com nosso desejo de estabilidade e nossa compreensão falha.
Mensagem a uma pessoa que lamenta a morte de um ente querido e que sente-se desiludida quanto a todas as formas de religião, pergunta ela: - Seremos seres sem sentido em nossas vidas?
..........................
à luz do Dharma sofremos porque desejamos que as coisas impermanentes, como a vida, sejam permanentes, a solução para este sofrimento é a liberdade e esclarecimento da iluminação, com ela percebemos que não houve esta morte que você lamenta, que na verdade seu ente querido, assim como todos os seres, estamos aqui para sempre, pois partilhamos de uma unidade perfeita, sendo o nascimento e a morte nada mais que ilusões. Esta compreensão, quando completa, nos liberta de todo o sofrimento.
Olhe pela janela, junto com as folhas das árvores, ali, está seu ente amado, olhe suas mãos, ele é você, nada está perdido, porque nada surgiu, tudo sempre esteve aqui e nada vai embora da unidade.
Mas compreendo seu sofrimento e de todos que amam, e também me entristeço de que haja tais dores no nosso mundo, e tento entender que nós as criamos com nosso desejo de estabilidade e nossa compreensão falha.
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quarta-feira, 26 de agosto de 2009
Remédios
P: Tenho déficit de atenção e preciso tomar uma medicação tarja preta,( atua especificamente no cérebro),que me ajuda muito na execução do meu trabalho,consigo ter uma produtividade normal, sem ela resulta-me muito difícil me adaptar as tarefas comuns. Mas fico me perguntando ... devo aceitar as coisas do modo que são e não tomar a medicação,aceitando o meu pobre desempenho e as conseqüências ou devo tomar? As vezes penso que não é diferente de uma pessoa míope usar óculos, mas a duvida volta e não consigo sossegar, a meditação pode ajudar?
R: Se você precisa dela para agir normalmente deve continuar com a medicação, se atraves da prática da meditação você for alcançando uma capacidade maior de concentração poderá diminuir a dose progressivamente, mas para isso você precisa do acompanhamento de um médico que saiba como funciona a meditação e nela acredite.
Não tente abandonar a medicação de repente e substituir pela meditação, esta abordagem precisa ser progressiva, e acompanhada, a meditação pode mudar seu domínio sobre o cérebro e mesmo alterar sua produção de serotonina, o cérebro é plástico e você pode altera-lo por sua vontade, com treinamento, vale a pena se esforçar porque os efeitos a longo prazo destas medicações não estão suficientemente avaliados e se sabe de muitos efeitos colaterais.
terça-feira, 25 de agosto de 2009
Dana
A prática da compaixão é marcada pelo impulso de partilhar, chama-se Dana a doação de recursos para sustentar as atividades da comunidade budista. Os alunos precisam cuidar para não estarem na posição de quem recebe sem nada dar em troca, porque esta postura coloca o recebedor em uma situação constrangedora de quem recebe, é carregado pelos outros, mas não consegue ajudar os restantes seres com o seu próprio esforço.
Desde os tempos de Buddha a comunidade é sustentada pelos praticantes generosos, que cada um de nós possa olhar para a Sangha e pensar: ela existe também por minha causa, e os que sofrem podem aqui buscar socorro.
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
A Partida - O filme
DHARMA COM PIPOCA NO CINEMA DO CIC
EXIBIÇÃO DO FILME "A PARTIDA)
Paris Filmes A Partida
Okuribito - 2008
Japão / 130 min / Drama
Direção: Yojiro Takita.
SINOPSE:
Daigo Kobayashi toca violoncelo em uma orquestra que acabou de fechar e fica desempregado. Ele resolve voltar para sua cidade natal com sua mulher e recomeçar a vida em um novo emprego. Ao procurar trabalho nos classificados do jornal, consegue vaga arrumando defuntos que serão cremados. Daigo se torna orgulhoso e perfeccionista em sua nova tarefa de ser o porteiro entre a vida e a morte.
Assista o trailer:http://www.youtube.com/watch?v=yZ_a3NlQqpI
Local: Cineclube Nossa Senhora do Desterro - CIC
Data: 27 de Agosto
Horário: 20 horas
Obs: Favor chegar com pelo menos 15 minutos de antecedência, os membros da Sangha poderão conversar sobre o filme após a exibição.
No Dharma,
_/\_...
Comunidade Zen Buddhista de Florianópolis (SC)
www.daissen.org.br
sábado, 22 de agosto de 2009
Mas o que é esta Plena Atenção, este “estar no Aqui e Agora”?
Mas o que é esta Plena Atenção, este “estar no Aqui e Agora”?
A cultura Ocidental tornou-se muito “informal”. Conseqüentemente, muitos praticantes se rebelam contra o rigor da “forma” no Zen. Mas no fundo o que significa “informal”? Acaba significando “in-forme”, ou seja, “sem forma”, “caótico”. Aqueles praticantes condicionados na “informalidade” se assustam quando tentam praticar as formas do Zen, pois talvez nunca cultivaram tamanho “auto-controle” nas suas atividades. Talvez achem tudo isso “pura chatice”. E quando ouvem um professor falar da importância de fazer as coisas com “naturalidade” e “espontaneidade”, acreditam que o seu jeito de fazer as coisas já é a “naturalidade” e a “espontaneidade” do Zen. Mas esta “informalidade”, na verdade, é um certo desleixo. Ou seja, não entenderam a “espontaneidade Zen”.
Mas também temos muitos “perfeccionistas” em nossa cultura. E como eles sofrem, inicialmente, com a nossa prática! Não entendem o que significa a verdadeira “Plena Atenção”. Confundem o rigor do Zen com a sua atenção aos detalhes, com a pressão e auto-cobrança quase obsessivos do perfecionismo que viveram no passado. Quando estes alunos fazem suas atividades sem estar verdadeiramente no Aqui e Agora, tendem a cair em suas auto-cobranças obsessivas, e sofrem muito. Talvez, querendo escapar do sofrimento, mas sem perceber a verdadeira causa, reclamam que o Zen é exigente demais, afirmando que "não precisava ser tudo tão certinho"… A verdade é que não estão entendendo a prática de olhar para os seus condicionamentos se manifestando e voltar à respiração, como treinam fazer com os pensamentos no Zazen.
Já os professores, às vezes, parecem bastante estranhos, aparentemente se contradizendo, uma hora pedindo “naturalidade e espontaneidade” e logo em seguida pedindo “precisão”, corrigindo vários detalhes. Pedem que façam as coisas “corretamente” e logo em seguida falam coisas como “Não tenha medo de errar! Se vai errar, por favor, erre com tudo!”.
Estão vendo os seus alunos indo de um extremo ao outro: tentando “não errar”, caem no perfecionismo; tentando agir “naturalmente”, caem no “desleixo”. Dualidade pura.
Falando paradoxalmente, aparentemente se contradizendo, os professores estão convidando os alunos a descobrirem a Plena Atenção, uma terceira postura na vida que permite uma precisão e atenção a detalhes que é natural e espontânea – algo bem diferente dos dois extremos do desleixo informal e do perfecionismo obsessivo da mente condicionada. Estão convidando os alunos a virem para o Aqui e Agora, plenamente conscientes de si mesmos, dos outros, do ambiente, das circunstâncias e de suas ações. Estão convidando-os a descobrir o “Zen na Ação”, a levar para as atividades diárias aquele mesmo estado de paz e tranqüilidade que é vivenciado no Zazen. Estão convidando-os a libertarem-se dos seus condicionamentos, manifestando a “mente iluminada”.
Este é o método do Zen.
Extrato de trecho de
Monja Isshin, a íntegra pode ser lida aqui
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sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Leigos também tem mestre?
Não há diferença na relação mestre discípulo, entre leigos e monges, no zen budismo. Os monges tem votos maiores, fazem cerimônias, são investidos de títulos e graduações, mas essencialmente isso tudo não altera a necessidade da transmissão mente a mente, e os leigos estão igualmente aptos a serem iluminados.
Evidentemente é mais fácil manter uma relação mais chegada com um mestre por parte dos monges, dada sua dedicação maior as atividades do Dharma, retiros etc... Porem um leigo dedicado pode fazer o mesmo.
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Abandonar corpo e mente
P: O que signfica este "abandonar corpo e mente" de que Dogen falou? Quem abandona o quê?
R: Abandonar corpo e mente significa abandonar a noção de um EU, que possui um corpo e uma mente que o gera, portanto não há nenhum "quem" abandonando.
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Hossenshiki em Ouro Preto
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
Votos do Bodisatva - Espanhol
Cena do filme ZEN, biografia de Dogen. "os deuses lançam flores sobre o Dharma", no filme o vento faz as flores das cerejeiras caírem como neve sobre os personagens.
Por mas innumerables que sean los seres vivientes,
hago el voto de salvarlos a todos.
Por mas infinitos que sean los deseos,
hago el voto de extinguirlos a todos.
Por mas profundas que sean las Enseñanzas,
hago el voto de aprenderlas a todas.
Por mas supremo que sea el Camino de Buda,
hago el voto de realizarlo.
sábado, 15 de agosto de 2009
Mundo, tão pequeno mundo...
Mundo, tão pequeno mundo...
Aquele que não é livre, enxerga um mundo restrito, acredita num mundo medíocre, utiliza uma linguagem que quer confirmar a não-liberdade e faz isso a todo tempo porquê precisa provar para si mesmo a existência deste mundo fictício que cria para si. Transforma suas relações com objetos e outras pessoas neste sistema fechado, quer convencer os outros de suas idéias, fica muito chateado se tiram seu chão e, sobretudo, fica embasbacado e sem ação quando vê um outro, livre, e sofre, sofre muito quando percebe sob seu nariz a liberdade "caótica" subjacente à própria existência.
Aquele que vive o sentimento de culpa, alimenta o sentimento de culpa como se fosse um peixe num aquário, precisa confirmar este sentimento de quando em quando para que ele não desapareça, ele pede confirmação para os outros, e inclui os outros nele, e acredita que obtém um certo alívio quando percebe que outros também têm essa mesma coisa, chegam a ficar felizes até, de uma alegria fosca e volátil feita de cumplicidade triste. Levam a vida assim, no dia de ontem.
Aquele que é negativo vê um mundo azul, azul chumbo. Tudo traz no fundo a semente do mal ou da tragédia engendrada, tudo é colocado numa moldura de horror, e todo cuidado é pouco. Seu mundo esta a beira do colapso a todo o tempo e se os outros não vêem o mesmo, então talvez todas as suas crenças, e sua vida por conseqüência, possam estar envenenadas ou com mal-agouro, encosto. Ele inclui os outros em seu mundo sombrio, não raro ele se torna a vítima.
A vítima precisa do algoz, então transforma o mundo à sua volta na causa dos seus problemas. E qualquer coisa pode ser a causa, o amigo, o inimigo, o tempo frio demais, a falta de tempo, a caixa de fósforos úmida, o pólen, qualquer coisa serve para alimentar e justificar sua existência tão sofrida. A vítima precisa de outros para existir assim tão frágil e desprotegida, vivendo em seu mundinho estreito.
Aquele que é estressado agita e enerva o que está a sua volta sempre que possível, assim seu frágil mundo ganha algum sentido e ele respira aliviado, ainda que mais estressado, mas isso não importa, importa dar sentido ao seu estado de nervos.
Aquele que é simpático traz um belo e convincente sorriso no rosto, adora sorrir para os outros, acredita levar a alegria a todo lugar. Fica preocupado porque o mundo já não sorri tanto ou porque alguém não correspondeu ao seu sorriso. Não entende porque há tanta gente mal-humorada no mundo. Muitas vezes não se importa se o mundo não corresponde sua expectativa, mas gostaria que as pessoas fossem mais felizes, como ele.
Aquele que é bom, está sempre fazendo o melhor possível, procura sempre fazer o bem para os outros, alguns, até em detrimento de si mesmo. Assim ele espera o reconhecimento de sua bondade através dos atos bons dos outros também. Fica inconsolável quando alguém corresponde sua bondade com indiferença, malícia ou maldade. Gostaria de ser reconhecido e adorado por todos por suas boas ações. Assim ele precisa de outros atores comprometidos na sua nobre causa para existir com alegria neste mundo.
O humilde abaixa a cabeça nas situações adequadas para que continue a ser humilde no momento oportuno, assim ele reconhece sua posição limitada diante das circunstâncias. Ele vê "os de cima" em cima e se vê embaixo, porque "os de baixo" estão abaixo. A humildade é a sua bandeira, sua guerra é manter as coisas separadas, os suntuosos e arrogantes confirmam sua posição no tabuleiro e assim ele, humildemente, sabe o seu lugar.
O trabalhador acorda cedinho para a labuta, todos os dias (domingo não), e sabe: "Deus ajuda quem cedo madruga." Oferece assim convicto as melhores horas do seu dia ao trabalho, não importa muito qual, desde que o dia se consuma e no final haja a féria. Desvaloriza aqueles que não acordam tão cedo ou não trabalham tanto assim. Sente-se forte contrapondo sua posição com a dos que trabalham menos e, sempre que a vida se torna um peso, lembra que é um trabalhador exemplar, que quase não tem tempo para outras coisas na vida além do trabalho, e mesmo assim não fez nada de mal, pelo contrário, e isto o alivia, ainda que não remova o tal peso. Dessa maneira o trabalhador molda o seu mundo e ocupa o seu lugar.
Esses são eu.
....
Poderia ainda descrever dez mil parágrafos como estes falando do vaidoso, do louco, do desajustado, do habilidoso, do genioso, do general, do médico, do goleiro, do amador, do caridoso, genial, humorista, idiota, servente, presidente, executivo, vendedor, lixeiro, amoroso, extrovertido, forte, fraco, compenetrado, disperso, etc, etc, etc... Cada qual com o seu mundo, cada qual defendendo seu pequeno lote cercado, sua pequena parcela, seu pequeno quinhão de vida. Que criaram para ele, que ele acredita, cria e mantém. Vivendo na água turva e viciada do aquário, com a água que há tempos retiraram do fluxo incessante de um grande rio sem começo nem fim. Vão viver assim, acreditando num início e num fim que só se enxerga nos limites do aquário. Todos têm em comum a concepção epidérmica extremamente dualista que se define delineando bordas a todo instante entre o seu e os deles, entre o si e o outro. Todos criam e sustentam uma linguagem que mantém seu mundo intacto como uma rocha ou um castelo de cartas. Essa linguagem precisa da confirmação de outros, senão desaparece, perde o sentido. Essa linguagem, que se expressa na fala, nos gestos e nas ações, precisa ver-se refletida nos outros para perpetrar. Então criam associações para se confirmarem mutuamente, aí ganham muito mais força. E fazem algo muito, muito perigoso. Que é incluir os outros em pequenos jogos de ego, ínfimos jogos de malícia e mesquinhez que servem ainda para dar força e aparente coerência aos seus pequenos mundinhos de águas seletas. E aqueles que entram nos jogos de outros, ainda acreditam estarem fazendo os seus próprios jogos e aí não se sabe mais quem começou, não se sabe onde vai terminar, "onde acaba este sofrimento". Fazem isso de boa vontade, quase sempre, fazem porque é assim que acreditam na vida, de outra forma não sabem, não sabem viver. De outra forma encarariam um vazio tremendo, um vazio pavoroso, um vazio de trincar o dentes e ouvir os urros das bestas mais medonhas, de ouvir ecos de gerações e gerações atormentadas por todos os tipos de misérias, como as suas.
Aquele que participa destes mundos, que percebe estes mundos por todos os sentidos do corpo e da mente, aquele que freqüenta estes mundos sem discriminar, sem escolher, sem pegar e sem se apegar é chamado de Bodhisattva, ou "apto ao despertar". Aquele que encara o vazio com tranqüilidade, não vê mais a si, sabe que o vazio é um fluxo incessante sem si próprio, sem princípio, sem fim. Ele não tem medo, porque o mundo dos medos é apenas mais um e, diferente do fluxo incessante que é a existência, em total sincronia com o universo, o medo tem começo e tem fim, começa e termina neste exato momento.
Contudo, mesmo os que acreditam terem fixado seja o que for, seja qual mundo for nesta existência, estes ainda fazem parte do grande fluxo sem nome e sem mundos, que a tudo e a todos banha sem discriminação, sem escolher e sem se apegar. Que banha e conduz as marés e os oceanos verde-azulados, as aves migratórias, o céu inacreditável de tantas estrelas cintilantes, os ventos, os verões e invernos, as rãs, o cheiro de pedra molhada na beira do rio e o sol, entre tantos, tantos seres iluminados.
Seigen (Publicado no blog Sangha Marga, link ao lado)
Aquele que não é livre, enxerga um mundo restrito, acredita num mundo medíocre, utiliza uma linguagem que quer confirmar a não-liberdade e faz isso a todo tempo porquê precisa provar para si mesmo a existência deste mundo fictício que cria para si. Transforma suas relações com objetos e outras pessoas neste sistema fechado, quer convencer os outros de suas idéias, fica muito chateado se tiram seu chão e, sobretudo, fica embasbacado e sem ação quando vê um outro, livre, e sofre, sofre muito quando percebe sob seu nariz a liberdade "caótica" subjacente à própria existência.
Aquele que vive o sentimento de culpa, alimenta o sentimento de culpa como se fosse um peixe num aquário, precisa confirmar este sentimento de quando em quando para que ele não desapareça, ele pede confirmação para os outros, e inclui os outros nele, e acredita que obtém um certo alívio quando percebe que outros também têm essa mesma coisa, chegam a ficar felizes até, de uma alegria fosca e volátil feita de cumplicidade triste. Levam a vida assim, no dia de ontem.
Aquele que é negativo vê um mundo azul, azul chumbo. Tudo traz no fundo a semente do mal ou da tragédia engendrada, tudo é colocado numa moldura de horror, e todo cuidado é pouco. Seu mundo esta a beira do colapso a todo o tempo e se os outros não vêem o mesmo, então talvez todas as suas crenças, e sua vida por conseqüência, possam estar envenenadas ou com mal-agouro, encosto. Ele inclui os outros em seu mundo sombrio, não raro ele se torna a vítima.
A vítima precisa do algoz, então transforma o mundo à sua volta na causa dos seus problemas. E qualquer coisa pode ser a causa, o amigo, o inimigo, o tempo frio demais, a falta de tempo, a caixa de fósforos úmida, o pólen, qualquer coisa serve para alimentar e justificar sua existência tão sofrida. A vítima precisa de outros para existir assim tão frágil e desprotegida, vivendo em seu mundinho estreito.
Aquele que é estressado agita e enerva o que está a sua volta sempre que possível, assim seu frágil mundo ganha algum sentido e ele respira aliviado, ainda que mais estressado, mas isso não importa, importa dar sentido ao seu estado de nervos.
Aquele que é simpático traz um belo e convincente sorriso no rosto, adora sorrir para os outros, acredita levar a alegria a todo lugar. Fica preocupado porque o mundo já não sorri tanto ou porque alguém não correspondeu ao seu sorriso. Não entende porque há tanta gente mal-humorada no mundo. Muitas vezes não se importa se o mundo não corresponde sua expectativa, mas gostaria que as pessoas fossem mais felizes, como ele.
Aquele que é bom, está sempre fazendo o melhor possível, procura sempre fazer o bem para os outros, alguns, até em detrimento de si mesmo. Assim ele espera o reconhecimento de sua bondade através dos atos bons dos outros também. Fica inconsolável quando alguém corresponde sua bondade com indiferença, malícia ou maldade. Gostaria de ser reconhecido e adorado por todos por suas boas ações. Assim ele precisa de outros atores comprometidos na sua nobre causa para existir com alegria neste mundo.
O humilde abaixa a cabeça nas situações adequadas para que continue a ser humilde no momento oportuno, assim ele reconhece sua posição limitada diante das circunstâncias. Ele vê "os de cima" em cima e se vê embaixo, porque "os de baixo" estão abaixo. A humildade é a sua bandeira, sua guerra é manter as coisas separadas, os suntuosos e arrogantes confirmam sua posição no tabuleiro e assim ele, humildemente, sabe o seu lugar.
O trabalhador acorda cedinho para a labuta, todos os dias (domingo não), e sabe: "Deus ajuda quem cedo madruga." Oferece assim convicto as melhores horas do seu dia ao trabalho, não importa muito qual, desde que o dia se consuma e no final haja a féria. Desvaloriza aqueles que não acordam tão cedo ou não trabalham tanto assim. Sente-se forte contrapondo sua posição com a dos que trabalham menos e, sempre que a vida se torna um peso, lembra que é um trabalhador exemplar, que quase não tem tempo para outras coisas na vida além do trabalho, e mesmo assim não fez nada de mal, pelo contrário, e isto o alivia, ainda que não remova o tal peso. Dessa maneira o trabalhador molda o seu mundo e ocupa o seu lugar.
Esses são eu.
....
Poderia ainda descrever dez mil parágrafos como estes falando do vaidoso, do louco, do desajustado, do habilidoso, do genioso, do general, do médico, do goleiro, do amador, do caridoso, genial, humorista, idiota, servente, presidente, executivo, vendedor, lixeiro, amoroso, extrovertido, forte, fraco, compenetrado, disperso, etc, etc, etc... Cada qual com o seu mundo, cada qual defendendo seu pequeno lote cercado, sua pequena parcela, seu pequeno quinhão de vida. Que criaram para ele, que ele acredita, cria e mantém. Vivendo na água turva e viciada do aquário, com a água que há tempos retiraram do fluxo incessante de um grande rio sem começo nem fim. Vão viver assim, acreditando num início e num fim que só se enxerga nos limites do aquário. Todos têm em comum a concepção epidérmica extremamente dualista que se define delineando bordas a todo instante entre o seu e os deles, entre o si e o outro. Todos criam e sustentam uma linguagem que mantém seu mundo intacto como uma rocha ou um castelo de cartas. Essa linguagem precisa da confirmação de outros, senão desaparece, perde o sentido. Essa linguagem, que se expressa na fala, nos gestos e nas ações, precisa ver-se refletida nos outros para perpetrar. Então criam associações para se confirmarem mutuamente, aí ganham muito mais força. E fazem algo muito, muito perigoso. Que é incluir os outros em pequenos jogos de ego, ínfimos jogos de malícia e mesquinhez que servem ainda para dar força e aparente coerência aos seus pequenos mundinhos de águas seletas. E aqueles que entram nos jogos de outros, ainda acreditam estarem fazendo os seus próprios jogos e aí não se sabe mais quem começou, não se sabe onde vai terminar, "onde acaba este sofrimento". Fazem isso de boa vontade, quase sempre, fazem porque é assim que acreditam na vida, de outra forma não sabem, não sabem viver. De outra forma encarariam um vazio tremendo, um vazio pavoroso, um vazio de trincar o dentes e ouvir os urros das bestas mais medonhas, de ouvir ecos de gerações e gerações atormentadas por todos os tipos de misérias, como as suas.
Aquele que participa destes mundos, que percebe estes mundos por todos os sentidos do corpo e da mente, aquele que freqüenta estes mundos sem discriminar, sem escolher, sem pegar e sem se apegar é chamado de Bodhisattva, ou "apto ao despertar". Aquele que encara o vazio com tranqüilidade, não vê mais a si, sabe que o vazio é um fluxo incessante sem si próprio, sem princípio, sem fim. Ele não tem medo, porque o mundo dos medos é apenas mais um e, diferente do fluxo incessante que é a existência, em total sincronia com o universo, o medo tem começo e tem fim, começa e termina neste exato momento.
Contudo, mesmo os que acreditam terem fixado seja o que for, seja qual mundo for nesta existência, estes ainda fazem parte do grande fluxo sem nome e sem mundos, que a tudo e a todos banha sem discriminação, sem escolher e sem se apegar. Que banha e conduz as marés e os oceanos verde-azulados, as aves migratórias, o céu inacreditável de tantas estrelas cintilantes, os ventos, os verões e invernos, as rãs, o cheiro de pedra molhada na beira do rio e o sol, entre tantos, tantos seres iluminados.
Seigen (Publicado no blog Sangha Marga, link ao lado)
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Kantaro Nakamura - do Kabuki ao Zen
O ator de Kabuki (arte teatral antiga do Japão) na premiére do filme sobre a vida de Dogen, que será exibido sábado as 16h pela Sangha de Florianópolis, em sessão privada, não comercial ( veja postagem do dia 11/8) ficou muito impressionado pela multidão que veio assistir o filme em New York. Ele duvidava que uma película tão filosófica pudesse ser apreciada por uma audiência americana. "Zen é um filme muito sutil" ele explicou, "Em nossos dias, em que se procura entretenimento fácil eu estou maravilhado que tantas pessoas venham ver o filme"
by Chris MaGee:
Kabuki actor Kantaro Nakamura made a personal appearance at the New York premiere of Banmei Takahashi's historical drama "Zen" that took place at the headquarters of the Director's Guild of America yesterday. While Nakamura comes from a long line of kabuki actors "Zen" is only his second feature film role, and it's a pretty big role. Nakamura portrays Dōgen, the 13th-century Buddhist monk who founded the Sōtō School of Zen, alongside such well known names as Tatsuya Fujiwara, Sho Aikawa, Jun Murakami and Yuki Uchida.
Nakamura was very impressed by the crowd who came out to see the film as he doubted if its philosophical storyline would translate to American audiences. "Zen is a very subtle movie," Nakamura explained, "In the days where we are going for easy entertainment, I was wondering whether people would come and see the film."
Distributed in Japan by Kadokawa Pictures there are now plans to screen "Zen" in 20 cities across the U.S. Thanks to Brietbart.com for this bit of news.
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Desapego
“Certa ocasião, um monge entrou na sala do mestre, ofereceu incenso, fez as devidas reverências e disse: "Mestre, abandonei todas as coisas, estou livre de quaisquer apegos, o que faço agora?". O mestre respondeu: "Desapegue-se, livre-se disso".
Confuso, o monge perguntou novamente: "O senhor não compreende, mestre. Eu disse que estou completamente desapegado de tudo. O que faço?". E o mestre respondeu: "Então, carregue isso com você".
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Aung San Suu Kyi - condenada novamente para vergonha de Mianmar
Em uma nova demonstração de violência em um país budista em sua maioria, a ditadura militar socialista de Mianmar prende um símbolo internacional de resistência moral, abaixo texto do noticiário de Veja:
"A líder de oposição em Mianmar e Prêmio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi, foi condenada a três anos de prisão e trabalhos forçados por um tribunal do país nesta terça-feira. A junta militar que governa o país, porém, reduziu a pena a 18 meses de prisão domiciliar, provavelmente temendo a reação da comunidade internacional.
Suu Kyi, de 64 anos, foi considerada culpada por ter transgredido as regras de sua prisão domiciliar. O processo da líder da oposição foi desencadeado após um cidadão norte-americano ter entrado e permanecido na sua casa durante dois dias no final de maio deste ano. Sem uma medida especial de clemência, a nova condenação a impedirá de participar nas eleições nacionais convocadas pela junta militar para 2010.
A União Europeia (UE) e a organização de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional (AI) condenaram a sentença contra Aung San Suu Kyi. A UE exigiu a libertação imediata de Suu Kyi e anunciou novas sanções contra o país asiático. "A UE pede com veemência às autoridades que a libertem imediata e incondicionalmente", diz o texto divulgado nesta terça. Já a Anistia Internacional considerou "vergonhosa" a condenação e também exigiu a libertação "imediata e sem condições". "A prisão, o julgamento e agora o veredicto não são mais que uma comédia política e judicial", afirmou a secretária-geral da AI, Irene Khan, antes de qualificar todo o processo de "vergonhoso".
Suu Kyi, premiada com o Nobel da Paz em 1991, é líder da oposição ao regime ditatorial do país, e ativista dos direitos humanos. Ela é filha de Aung San, o herói nacional da independência da Birmânia, que passou a se chamar Mianmar. Seu pai foi assassinado quando ela tinha apenas dois anos de idade. Suu Kyi teve a prisão domiciliar decretada de 1989 até meados de 1995. Depois disso, chegou a ter um breve período de "liberdade" até 2000. Neste ano, porém, ela foi novamente confinada entre as quatro paredes de sua residência por mais 19 meses. A junta militar que governa o país tem prorrogado de tempos em tempos a sua condenação.
terça-feira, 11 de agosto de 2009
Dharma com Pipoca
DHARMA COM PIPOCA
É como temos chamado, imitando outras comunidades zen budistas, as exibições de filmes que interessam aos praticantes budistas. No caso, o filme sobre Dogen, retrata um personagem interessantíssimo, viveu de 1200 a 1253, seus textos consolidaram a língua japonesa e são clássicos literários. Na época introduziu o banho obrigatório, de 4 em 4 dias, o hábito de lavar-se após usar os banheiros e até a escova de dentes, coisas que a Europa medieval desconhecia e que eram hábitos nacionais no Japão quando os europeus chegaram 400 anos depois.
O filme concentra-se na sua trajetória espiritual, especialmente após voltar da China em 1227.
EXIBIÇÃO PRIVADA, NÃO COMERCIAL, DO FILME “ZEN”
Título original: Zen
Diretor: Banmei Takahashi's
Língua original: Japonês
Legendas: português
Duração: 127 min.
Lançamento: 01/2009
SINOPSE
Filme baseado em fatos reais, ambientado no Japão e na China. Retrata a vida do mestre zen budista Dogen Zenji, durante o turbulento período Kamakura. Seus pais morreram quando ele ainda era muito jovem, e o último desejo de sua mãe era que ele se tornasse um monge e trabalhasse para o bem de todos os seres. A experiência de ter perdido seus pais, deu uma visão especial a Dogen para a natureza fugaz da vida e desencadeou a sua busca pela iluminação. Ele viajou para a China e treinou para se tornar um mestre budista, mas quando retornou ao Japão para difundir o que ele aprendera como uma forma nova de budismo, foi recebido com muita resistência e repressão.
Oportunidade única de assistir um dos mais belos filmes já produzidos sobre o Zen!
Assista o trailer: http://www.youtube.com/watch?v=94n2hDg-vTg
Local: Sala multimídia - Província Coração de Jesus (ao lado do Daissen Restaurante Vegetariano)
Data: 15 de Agosto
Horário: 16 horas
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
Imitando Dogen
Nossos esforços de meditação imitam pobremente os de Dogen e dos monges que iniciaram a prática Soto Zen no Japão. No início do sec. XIII eles eram extremamente pobres, e às vêzes, em lugar de arroz, só tinham água fervida para substituir refeições.
Sábado, 15/8, às 16h, a Sangha de Florianópolis poderá assistir o filme Dogen legendado em português, a biografia do mestre é emocionante mas densa de tal modo que não passará em circuitos comerciais. Os diálogos diretamente tirados dos textos clássicos exigem comentários posteriores para serem melhor apreciados.
Ao vermos o budismo integral de Mestre Dogen, praticando como ele até morrer sentados em zazen, compreendemos o significado da degenerescência do Dharma, como de todas as coisas que os homens fazem, sempre tentando ficar com o que é confortável em lugar de praticar verdadeiramente.
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
Flávio Joshin
Após um ano de nossa perda, uma lembrança de Flávio Joshin em momentos junto com a Sangha. Um Ihai com seu nome permanece no templo da comunidade para sempre.
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
O que é Baika
Na foto, alunos da Sangha Águas da Compaixão aprendem a tradição zen da Baika com professor Yasuda Sensei convidado por Isshin San.
Utilizando o canto, acompanhado de dois instrumentos relativamente simples, a Baika não é um coral, tampouco se preocupa com afinação e qualidade de voz, pois isso vem com o tempo. O que interessa nessa prática, como em todas as práticas budistas, é a sinceridade do esforço.
Baika significa “ameixa”, fazendo referência à flor da ameixeira que floresce no mais frio do inverno. Também é chamada de Goeika, originada das “Canções dos Peregrinos”, devido aos caminhos de peregrinação, no Japão, que passam por vários mosteiros e templos budistas. Muitos praticantes ainda fazem esse percurso a pé e, segundo a tradição de aproximadamente 1100 anos, a cada templo que se chega, há instrumentos à disposição para que seja entoado o hino daquele templo, antes de seguir a caminhada para o próximo.
A prática de Música Zen Budista permite a qualquer praticante entrar no mundo da expressão musical através da plena atenção e harmonização com o grupo. A abordagem do “treino” difere bastante daquilo que conhecemos como “ensaio” de música ocidental, seja no contexto secular, seja no contexto religioso ocidental. É prática Zen. As músicas entoadas na Baika baseiam-se no canto de poemas budistas, homenagens a grandes mestres, ensinamentos Zen e outros, acompanhadas do som de um sininho e uma pequena chapinha de metal que é tocada com um martelinho.
No grupo formado na Sanga Águas da Compaixão, inicialmente, cantaremos as músicas em japonês, enquanto estamos aprendendo o espírito da prática. Esperamos que, com o tempo, possamos desenvolver a nossa própria prática de Baika brasileira, com as nossas próprias músicas e/ou poemas em português.
No Japão essa prática é tão popular que há encontros regionais e nacionais. Esse último chega a lotar um estádio de futebol.
Futuramente, receberemos visitas de professores especiais de Baika, enviados ao Brasil pela sede japonesa da nossa tradição, para ministrar aulas nos vários grupos existentes no país – uma vez que esta prática está bastante difundida na colônia japonesa.
“Apresentações de goeika (ou Baika) são comuns nas celebrações de “Obon”; cerimônias marcando o nascimento, iluminação e parinirvana de Buda (Tanjo-e, Jodo-e e Nehan-e) e cerimônias em honra dos fundadores de templos. Freqüentemente os poemas falam dos sofrimentos e prazeres da vida comum. Ao praticar o goeika, deve-se manter o coração o mais livre possível das distrações, dos pensamentos e apegos.”
Texto traduzido por Monja Isshin, do Rinnou Net – Official Site for the joint council for Japanese Rinzai and Obaku Zen / What Is Zen? / Music – http://zen.rinnou.net/whats_zen/music.html
Publicado no blog de Monja Isshin, link ao lado.
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
O zen deve ficar distante dos negócios?
Este pensamento é uma deturpação dos ensinamentos, uma crença do sec XIX de que só existe trabalho com a dualidade da luta, desde os tempos de Buddha foram comerciantes e homens ricos seus grandes apoiadores, o Sutra de Vimalakirti, um importante texto Mahayana, coloca um rico comerciante em posição eminente junto aos maiores discípulos do Mestre. Se o zen budismo, não pudesse influir em todas as atividades lícitas humanas, ele seria uma disciplina espiritual inútil, restrita aos ascetas escondidos em lugares longe de todos.
Pelo contrário, o primeiro voto do bodisatva fala em "mesmo que os seres sejam inumeráveis eu me comprometo a liberta-los todos", seria impossível cumprir o primeiro voto, ou sequer tentar faze-lo, discriminando os seres e fugindo dos que empreendem atividades produtivas.
Vimalakirti diz a discípulos de Buddha em um famoso diálogo: "Meu mosteiro é na cidade, lá onde estão os que sofrem, os que precisam de emprego e trabalho"
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terça-feira, 4 de agosto de 2009
Seshin de inverno para iniciantes
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Orem para que eu tenha emprego!
Você pede que oremos para V. suportar o desemprego. O budismo pode ajudar V. a suportar e a eventualmente superar o desemprego, não através de orações, mas seguindo um caminho diferente. O budismo não trabalha com o conceito de uma divindade exterior ao homem com quem poderíamos "negociar", através de preces e oferendas, auxílio para a resolução de nosso problemas indiviuais. O budismo é uma doutrina de sabedoria e esclarecimento que nos ensina a compreender a nós mesmos e ao mundo em que estamos inseridos, permitindo, dessa forma, encontrarmos serenidade e discernimento para enfrentar os desafios. O princípio fundamental do budismo é a Lei da Originação Dependente que nos ensina que tudo o que acontece se deve a um conjunto de causas e condições. Aplicando isso ao desemprego, há que verificar em primeiro lugar que o desemprego não é um problema só seu: é um problema global que afeta o mundo inteiro. A presente crise econômica e financeira atinge países que se julgavam ao abrigo do desemprego como Estados Unidos, Alemanha e Japão: só neste ano milhões de pessoas perderem seus empregos nesses países. Isso vem acelerar uma tendência que os sociólogos e economistas já perceberam algum tempo atrás, a da progressiva desaparição do emprego ou vínculo empregatício permanente.
A tendência dominante é a da "flexibilização" das relações de trabalho, as pessoas se organizam temporáriamente par prestar serviços a uma empresa e logo se desligam da mesma para prestar serviço a outros. O mundo em que crescemos e fomos educados nos ensinou contar com um emprego permanente, mas vemos agora que tudo o que parecia sólido e estável se dissolve no ar, estamos vivendo tempos "líquidos" que não nos proporcionam nenhum ponto de apoio permanente e confiável. Isso está, aliás, de acordo com o budismo, que nos ensina que tudo é impermanente, mutável, instável. A maioria dos meus amigos que se viram às voltas com o desemprego superaram o problema reestruturando sua vida para prestar serviços e assssoria às empressas de forma independente, sem vínculo empregatício. Concluindo, há que constatar que o emprego fixo é uma espécie em extinção e que as relações de trabalham precisam ser repensadas e reestruturadas de forma radical e em escala global.
Bem, desejo sinceramente que estas reflexões o ajudem a equacíonar seu problema com serenidade e discernimento e a buscar soluções de forma viva e criativa, como muitos estão fazendo neste momento, no mundo inteiro.
Gasshô,
Shaku Riman
(texto do Rev. Prof. Dr. Ricardo Mario Gonçalves, copiado de publicação feita na lista Shin, em resposta a uma pessoa que pedia que orassem para que ele obtivesse emprego)
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