segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A compaixão ilumina a questão do aborto


Kanzeon é a representação da compaixão no budismo, não por acaso tomou a forma feminina na China e Japão. Yokoji, inverno de 2010.

A discussão sobre o tema do aborto, adotou um viés legalista, pior ainda, eleitoreiro, com candidatos mudando de opinião ao sabor das pesquisas, pessoas flexíveis, para quem o poder vale qualquer venda de suas convicções.
Quer-se saber se o aborto é um crime ou não, quer-se definir se o estado deve ou não preocupar-se com as centenas de mortes de mulheres vítimas de complicações ou se devem ser socorridas sem ameaças legais, e elas são simplesmente 1 000 000 a cada ano nesta nação.
Existe uma outra forma de olhar as questões humanas que não é a meramente legal, esta pode levar, como aconteceu recentemente, a obrigar uma mulher com um feto sem cérebro, condenado à morte automática após o nascimento, a arrostar toda a gravidez sabendo o que a esperava na sala de parto, porque a lei a proibiu de interromper a gravidez, já que o aborto era “ilegal”, posto que esta eventualidade não estava prevista nas exceções dos legisladores.
O olhar que pode alterar tudo é o de ver os eventos, não da maneira engessada de um texto legal, mas através da consideração do sofrimento que envolve os participantes, o olhar que o budismo propõe.
Se olharmos através desta ótica veremos que lei alguma poderá abranger todas as nuances do que ocorre com a humanidade, e que os casos apresentados precisam de um intérprete flexível com um olhar para o sofrimento. Visto assim, um juiz, com as melhores informações, poderia decidir se o caso acima era, não um crime, mas uma intervenção destinada a diminuir o sofrimento da mãe e de toda a família que circundava uma tragédia, já de per si intensa. Este intérprete não poderia tardar em seu julgamento, sua decisão é urgentíssima e não se presta ao lento trâmite a que estamos acostumados em nosso judiciário, um rito veloz precisa ser criado.
Quanto a grossa maioria dos abortos, usados como método anticoncepcional tardio, basta olhar de novo pela ótica do sofrimento maior, melhor o acesso livre a anticoncepção que a pílula abortiva, melhor a pílula do dia seguinte que um aborto cirúrgico, melhor o apoio a um nascimento do que o remorso de uma vida inteira com uma voz ao fundo da consciência se perguntando, “como seria o filho que não deixei nascer”?
Para o budismo a questão deve ser: "Qual a maneira de agir que provoca menor sofrimento a todos os envolvidos, todos inclui o ser que deseja nascer, e abrange o tempo infinitamente longo das consequências"

Monge Genshô

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Rohatsu Sesshin



Rohatsu Sesshin do Templo Busshinji de São Paulo:

DATA: de 12 a 18 de dezembro
INÍCIO: 13h30min do dia 12/12
FINALIZAÇÃO: madrugada do 19/12 (noite de18 para 19/12)
CUSTO: R$ 300,00 (inclui alimentação e alojamento)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Gurus e infalibilidade


A Monja italiana Myoren San conversa com o mestre americano Tenshin Roshi em Yokoji. (2010)

P: No zen existe a prática de tomar refúgio em um mestre (guru) e considera-lo como infalível e perfeito?

R: No zen budismo se toma refúgio no Buda, no Dharma e na Sangha, a prática de refúgio no Guru não faz parte das práticas no Zen Budismo.
Assim não há, no zen, estes aspectos de infalibilidade na prática usual junto ao mestre.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

"Quando tudo se desfaz"


Quando Tudo se Desfaz
Texto de Pema Chödrön
extraído do livro "Quando tudo se desfaz"
Traduzido por Helenice Gouvêa

Assim é a vida. Não sabemos de nada. Dizemos que algo é bom, dizemos que algo é ruim mas, na verdade, simplesmente não sabemos.

Quando tudo se desfaz e nos encontramos à beira sabe-se lá de que, o desafio que se apresenta a cada um de nós é o de permanecer nesse limiar, sem buscar alguma ação concreta, O caminho espiritual não tem nada a ver com o paraíso, com chegar finalmente ao céu. Na verdade, esse modo de encarar a vida é que nos mantém infelizes. Pensar que podemos encontrar algum prazer duradouro e evitar a dor é o que o budismo chama de samsara, o ciclo inútil que gira e gira, infinitamente, e nos causa tanto sofrimento. A primeira nobre verdade que o Buda nos apresenta chama nossa atenção para o fato de o sofrimento ser inevitável para nós, seres humanos, enquanto acreditarmos que as coisas permanecem — que não se desintegram e que podemos contar com elas para satisfazer nossa ânsia de segurança. Sob esse ponto de vista, o único momento em que realmente sabemos o que está acontecendo é quando nos puxam o tapete e não encontramos nenhum apoio. Podemos utilizar situações desse tipo para despertar ou escolher dormir. Exatamente ali — precisamente no momento em que ocorre a experiência de faltar o chão — encontram-se as sementes que nos levarão a cuidar daqueles que precisam de nós e a descobrir nossa própria bondade.

Lembro-me muito claramente do dia, no início da primavera, em que perdi tudo o que considerava real. Embora isso tenha acontecido antes que eu tivesse qualquer contato com os ensinamentos budistas, representou o que alguns poderiam chamar de uma autêntica experiência espiritual. Ela ocorreu quando meu marido me contou que estava tendo um caso. Vivíamos na região norte do Novo México. Eu estava parada em frente à nossa casa de adobe, tomando uma xícara de chá. Ouvi quando o carro chegou e o barulho da porta batendo. Então, ele é caminhou até a casa e, sem qualquer aviso, disse que estava tendo um caso e que queria o divórcio.

Lembro do céu e de como ele era imenso. Lembro do murmurar do rio e do vapor que saía da minha xícara de chá. O tempo não existia, não havia nenhum pensamento, não havia nada — apenas a luz e uma quietude profunda e ilimitada. Então, eu me recompus, peguei uma pedra e atirei nele.

Quando me perguntam como acabei me envolvendo com o budismo, sempre respondo que foi porque estava com muita raiva do meu marido. A verdade é que ele salvou minha vida. Quando esse casamento desmoronou, tentei arduamente — muito, muito arduamente — encontrar algum tipo de consolo, alguma segurança, algum lugar que me fosse familiar e onde pudesse repousar. Para minha sorte, nunca consegui. instintivamente, sabia que a destruição de meu velho eu, dependente e apegado, era o único caminho a seguir. Foi nessa época que pendurei o tal cartaz na parede.

A vida é uma boa professora e amiga. Se pudéssemos perceber, veríamos que tudo está sempre em transição. No fim, nada é como sonhamos. Esse estado descentralizado e indefinido representa a situação ideal. Nesse ponto, não estamos presos a nada e podemos abrir nosso coração e mente além de qualquer limite. Essa é uma situação sem agressividade, muito frágil e aberta.

Ficar nesse desequilíbrio — com o coração partido, o estomago apertado, o sentimento de desesperança e o desejo de vingança — é o caminho do verdadeiro despertar. Ficar na incerteza, pegar o jeito de relaxar no meio do caos, aprender a não entrar em pânico — esse é o caminho espiritual. Desenvolver a habilidade de perceber-se, de perceber-se com suavidade e compaixão — esse é o caminho do guerreiro. Gostando ou não, temos de nos flagrar um milhão de vezes e mais uma, quando congelamos em ressentimento, amargura e justificada indignação — quando congelamos de qualquer modo, até mesmo em sentimentos de alívio e inspiração.

Todos os dias poderíamos pensar na agressividade que existe no mundo — em Nova York, Los Angeles, Halifax, Taiwan, Beirute, Kuwait, Somália, fraque — em todo lugar. No mundo todo, há sempre alguém lutando violentamente contra um inimigo e a dor está em franca escalada. Todos os dias poderíamos refletir sobre isso e pensar: "Vou acrescentar mais agressão ao mundo?’. Todos os dias, quando as situações se tornam tensas, poderíamos apenas nos perguntar: "Vou cultivar a paz ou me aliar à guerra?"

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Sesshin de Primavera e retorno de Kumagai Genshu San



Foto do retiro de fim de semana na Reserva Passarin em Paulo Lopes. Kumagai Genshu San, que esteve conosco ensinando cerimônias, retornou prematuramente devido a doença de seu pai no Japão.
A Reserva Passarin possui o privilégio de estar mergulhada na floresta rodeada de riachos de águas límpidas e distante das agitações do mundo. Mais fotos deste local privilegiado e do sesshin estão aqui.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O refúgio na Sangha


P: Qual a diferença entre o significado do termo Sangha nas diferentes escolas?

R: No Theravada a Sangha se refere aos Arahants, ou seja aos que se realizaram.
No Mahayana em geral a Sangha é a dos monges, (em japonês uma palavra para monge é "soryu" que significa "aquele que entrou na Sangha") mas por extensão assim nos referimos a toda a comunidade.

Quando se toma refúgio na Sangha não o fazemos em pessoas, isto teria o mesmo sentido que pensar que, sendo um motor constituído de pedaços de ferro, pudessemos chamar a estes pedaços de "motor", eles só o são dentro de determinado arranjo e aí tem grande força. Assim o conceito Sangha é muito mais que meramente pessoas, da mesma forma que no símile citado.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Tirar a própria vida



P: O que diz o budismo do suicídio?

R: Um ponto digno de comentário, o suicídio é visto normalmente como uma forma de sair de um estado mental, afinal é tão insuportável o que se está vivendo que melhor conseguir uma maneira de "parar" tudo.
O problema é que na verdade nada cessará, o estado mental presente no momento da morte determina o estado futuro daquela onda cármica, (o que desencadeia vidas e sua consequência, a noção de um EU) e assim será muito influente em qualquer manifestação posterior que venha a ocorrer.
Visto assim o suicídio é a perda de uma oportunidade de solver o presente e uma projeção para o futuro de tudo o que está aqui e de forma bem menos controlável.
Este mesmo argumento pode ser usado para explicar porque a pena de morte não seria uma solução em absoluto para o problema de conduta, simplesmente consolida a situação cármica presente projetando-a para o futuro.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Alienação


P: Onde termina a impermanência e o desapego e começa a alienação e o comodismo?

R: O Desapego significa não colocar um Eu em nada, perceber a unicidade e interdependência de tudo, não colocar o seu eu, meu, minha, nas coisas e pessoas. Assim nada tem a ver com alienação e sim com senso de posse, com o erro da ampliação do seu eu.

P: Ter uma postura compassiva seria equivalente a ter uma postura passiva onde apenas seguimos o que nós é mandando?

R: De maneira alguma, compaixão é ação compassiva, ser a mudança que se quer no mundo e não ficar parado deixando acontecer. Buda não ficou sentado embaixo da árvore Boddhi, levantou-se e agiu no mundo durante 40 anos, tentou evitar guerras, criticou pessoas, falou extensamente, ensinou, agiu, e seus alunos idem. Não foram cordeiros foram pastores. Ele mostrou o caminho com seu exemplo.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O Rakusu - Quando usá-lo


Professores com seus Rakusus em Yokoji.

Quando usá-lo

A praticidade do Rakusu é que você pode usá-lo sempre, é um mini Kesa. Suas alças permitem usá-lo sobre as vestimentas habituais. Mestre Deshimaru nos aconselhava a usá-lo o mais freqüentemente possível, assim a prática da Via torna-se presente em nosso espírito; a partir do momento em que usamos o Rakusu nossas maneiras se tornam mais belas e automaticamente nossa atitude mais concentrada. Da mesma maneira que um pequeno ponto sucede a um outro para formar uma linha reta, nossa concentração aqui e agora sobre cada um de nossos atos forma uma linha justa e certa da nossa vida. Mas, antes de mais nada, usamos o Rakusu para praticar zazen no dojo. Todos podem costurar e usar o Rakusu, mesmo quando se usa somente uma vez nosso karma é transformado. Pode-se costurar o Rakusu para si ou para um outro, é o mais belo presente que se possa dar.

Antes de usar o Rakusu deve-se colocá-lo em cima da cabeça, fazer gasshô e recitar três versos - Dai Sai Gedapuku. O Rakusu não é algo decorativo, é a transmissão da Via, a transmissão da prática do zazen, respeite-o como vosso mais precioso bem. Assim quando você for ao banheiro ou tomar banho deve tirá-lo. Fora do sesshin, quando você for comer em sua casa ou num restaurante é preferível retirá-lo. Quando você for tirá-lo, guarde-o dentro de uma sacola e ponha-o sempre num lugar alto e apropriado, no ambiente em que você vive, jamais coloque-o no chão.

Fonte: Grands Classiques Zen – Lê Livre Du Kesa. Traduit e commenté par maître Taisen Deshimaru. Paris.

Tradução: Álvaro Leonel da Cunha

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Medicina e meditação no Brasil

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Meditação reduz a ansiedade e o estresse e auxilia na cura de doenças

Pacientes do hospital da Unifesp estão aprendendo a estimular o cérebro através da meditação. Na UnB, uma pesquisa está avaliando os efeitos da meditação no cérebro de pacientes que tiveram câncer de mama.

Globo Repórter, 08/10/2010.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Genshu San em Florianópolis



Genshu San veio do Japão, aos 28 anos internou-se em um mosteiro zen budista, havia trabalhado como operário em fábrica de automóveis, e estudara artes plásticas, não saiu do mosteiro de Sojiji Soin durante sete anos e meio, quando mudou-se para Antaiji um lugar de prática zen focado em meditação intensiva, após quase dois anos veio para o Brasil e após quatro meses no Templo Busshinji em SP foi enviado a passar um mês com o grupo de Florianópolis, ajudando a aperfeiçoar as cerimônias e ensinando detalhes. Na foto Genshu San exibe sua maestria no taiko acompanhando recitações de sutras durante o treinamento especial realizado sábado passado.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Novo Livro Budista - A Roda da Vida


"Se o sofrimento foi criado, construído, ele pode ser dissolvido, desconstruído. Para tanto, é necessário aprender a percorrer o caminho inverso, coisa que Padma Samten ensina com maestria. Mas só isso não é suficiente. A lucidez é alcançada pelo cultivo de uma mente compassiva, associado à realização da vacuidade, termo que não significa vazio, como muitos acreditam. Dizer que tudo é vacuidade é afirmar que os fenômenos – as coisas e as relações – não existem por si mesmos; existem apenas na dependência de; interdependentemente.
O entendimento intelectivo do conceito, entretanto, não implica em sua realização. Quando esta acontece, a visão de mundo é profundamente alterada e a pessoa sente-se conectada com o todo. A verdadeira compreensão da essência da realidade ocasiona uma abertura inigualável para o outro e para o mundo. Com exemplos retirados do cotidiano, Lama Samten explica a vacuidade da forma simples, a fim de tornar o caminho rumo à libertação acessível ao maior número possível de pessoas.

Além de ter a virtude de reunir os mais importantes ensinamentos budistas, apresentando ao leitor noções complexas e sofisticadas, livro tem o mérito de mostrar como esse conhecimento pode (e deve) ser aplicado no dia-a-dia por qualquer pessoa que deseje livrar-se do sofrimento.

O Buda disse que ninguém deveria aceitar suas ideias baseando-se apenas na fé. O praticante do budismo deve testar os ensinamentos e ver se funcionam ou não em sua vida.

“Em termos filosóficos, o budismo é uma religião extremamente sofisticada, mas que pode ser resumida em duas palavras: compaixão e sabedoria. Procurar desenvolver essas qualidades é o que todo budista deve fazer em sua prática em busca da iluminação”, diz Lama Samten. Um conselho útil a todos."
Link aqui

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Apenas o fim do sofrimento



“O que você pensa, você considera que o Tathagata está na forma? ...
Separado da forma? ... Na sensação? ... Separado da sensação? .. Na percepção? .. Separado da percepção? ... Nas formações? ... Separado das formações? ... Na consciência? ... Separado da consciência?"

“Não, senhor.

“O que você pensa, você considera que o Tathagata é o conjunto da forma-sensação-percepção-formações-consciência?

“Não, senhor.

“Você considera que o Tathagata não tem forma, não tem sensação, não tem percepção, não tem formações, não tem consciência?

“Não, senhor.

“Mas, Anuradha, quando você não consegue entender o Tathagata como real e presente nesta mesma vida, é apropriado que você declare, ‘Amigos, o Tathagata – o homem supremo, o homem superlativo, que realizou a realização superlativa – ao ser descrito, é descrito de uma maneira distinta dessas
quatro: o Tathagata existe após a morte; não existe após a morte; ambos, existe e não existe após a morte; nem existe, nem não existe após a morte.’
?”

“Não, senhor.”

“Muito bem, Anuradha. Tanto antes, como agora, eu declaro somente o sofrimento e a cessação do sofrimento.” [SN XXII.86]

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Ele não compete assim ninguém compete com ele

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Entrevista excelente, os que não sabem ler em inglês podem apreciar as meras expressões do rosto, elas são suficientes ...

terça-feira, 5 de outubro de 2010

A vida cotidiana


"Isolar o Dharma da vida cotidiana é a pior falha do budismo hoje. Os mais experientes fiéis parecem não conseguir se libertar da cobiça, da raiva e da ignorância, mesmo os mais letrados na doutrina ainda se flagram fofocando a respeito do que as pessoas consideram certo ou errado.
Se o budismo se alienar da vida real, o Dharma deixa de suprir nossas necessidades e de ser nosso guia; se não enriquecer o conteúdo de nossa vida, sua existência perde o significado. Os ensinamentos do Buda visam à melhoria da vida, à purificação da mente e ao aprimoramento do caráter. É um budismo relevante para a vida e o viver que eu quero difundir.
A vitalidade do budismo depende do quanto conseguimos estar em harmonia com os ensinamentos do Buda enquanto dormimos, conversamos, caminhamos ou exercemos qualquer tipo de atividade. O Buda falou sobre a determinação da mente. Para aplicar tal ensinamento, a mente deve ser resoluta na forma como conduzimos nossa vida diária, nossa maneira de dar e, em geral, nossa maneira de praticar o budismo. Dormir com uma intenção torna o sono mais reparador; ingerir com atenção torna o alimento mais saboroso; andar com resolução torna a estrada mais suave; enfrentar um problema com determinação torna-se um desafio prazeroso.
A determinação da mente é um aspecto do ensinamento do Dharma que é útil na harmonização de todos os níveis de relacionamento humano. Não é apenas uma retórica filosófica. O Dharma deve ser exercido e praticado da forma mais ampla possível. Não há como separar o Dharma da vida." - Venerável Mestre Zen Hsing Yün, em sua biografia Espalhando a Luz, publicada pela Cultura Editores Associados, 2002.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Shohaku Okumura Roshi


Shohaku Okumura Roshi foi um dos professores mais impressionantes de quem tive o privilégio de ouvir palestras, seu conhecimento teórico e profundidade espiritual são marcantes. Simpático e surpreendentemente jovem para seus 62 anos possui um sorriso aberto e uma presença inspiradora. Abaixo uma biografia como consta na página sotozencolombia.org



Nació en Osaka, Japón, en 1948. Estudió Budismo Zen en la Universidad de Komazawa en Tokio y recibió la ordenación de monje de Uchiyama Roshi en 1970. Continuó su práctica con Uchiyama Roshi en Antaiji hasta 1975 cuando viajó al Pioneer Valley Zendo en Massachusetts. Luego de su regreso a Japón en 1982 comenzó la traducción de textos de Dogen y de Uchiyama al inglés, con la colaboración de Tom Wright y otros practicantes americanos. En 1993 regresó a los Estados Unidos y dirigió la práctica por algún tiempo en el Minnesota Zen Meditation Center de Minneapolis. Hasta junio de 2010 ocupó el cargo de director del Centro Internacional del Budismo Soto Zen (Soto Zen Buddhism International Center), con sede en San Francisco. En la actualidad vive en Bloomington, Indiana como maestro de Sanshin Zen Community y continúa traduciendo textos de Dogen Zenji. Entre sus trabajos publicados en inglés se encuentran "Shobogenzo Zuimonki", "Dogen Zen", "Zen Teachings of 'Homeless' Kodo", "Soto Zen. An Introduction to Zazen", "Wholehearted Way: A translation of Eihei Dogen's Bendowa", "Opening the Hand of Thought", "Nothing is Hidden: Essays on Zen Master Dogen's Instructions for the Cook”, "Dogen's Pure Standards for the Zen Community: A Translation of Eihei Shingi" y últimamente “Dogen's Extensive Record: a translation of the Eihei Koroku”. De estos textos, sólo Shobogenzo Zuimonki ha sido traducido al español como: Enseñanzas Zen de Eihei Dogen (s. XIII) (Shobogenzo Zuimonki) por Editorial Miraguano. En junio de 2010 publicó el libro "Actualizing Genjokoan", en Wisdom Publications.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Quando morrer você vai entender


Kodo Sawaki Roshi
Para você: depoimentos Zen reunidos


"7. Para você que gostaria de deixar seus rivais na poeira.

Nós freqüentemente nos perguntamos quem é realmente melhor? Mas não somos todos nós feitos do mesmo amontoado de barro?

Todos deveriam sentar-se firmemente ancorados no lugar onde não há melhor ou pior.

Por toda sua vida você está completamente louco porque você acha ser óbvio que exista um ''eu'' e ''os outros''. Você representa um papel para sobressair-se em uma multidão, mas na realidade não há nem ''você'' nem ''os outros''.
Quando morrer, você vai entender.

Buddha-dharma significa ausência de costura. Que costura corre entre você e eu? Mais cedo ou mais tarde nós todos acabamos agindo como se uma costura separasse amigo e inimigo. Quando nos acostumamos muito com isso, nós acreditamos que essa costura realmente existe.

Pobre e rico, importante e não importante - nada disso existe. É somente brilho nas ondas. Ainda assim há alguns que amaldiçoam buddha porque eles estão presos na infelicidade ou porque alguém é mais feliz do que eles.

Felicidade e infelicidade, importante e não importante, amor e ódio - o mundo todo dá grande importância a essas coisas. O mundo onde nada disso existe: este é o mundo de hishiryô.

Não há nada no mundo com o que nós precisemos quebrar nossa cabeça já que está claro que nossos pensamentos deludidos e discriminações são absolutamente inúteis.

Quando o chefe de departamento estava doente, um subordinado passou por cima dele no plano de carreira. Ele estava se recuperando, mas com essa notícia sua febre surgiu novamente. Você realmente não precisa pegar uma febre por causa de algo assim.

Você diz, ''Eu vou te mostrar!'' Mas você nem sabe quanto tempo vai viver.
Você não tem alguma outra coisa para fazer?

No Oeste eles dizem, "O homem é o lobo do homem". O primeiro passo na religião deve ser que os lobos parem de morder uns aos outros.

O que nós temos aprendido desde nossos dias de infância é nada mais do que como fingir sermos importantes. O mundo chama isso de educação. E o que nós tentamos fazer mais tarde na vida? Nós lutamos como demônios, fazemos sexo como animais e nos alimentamos como os fantasmas famintos. É isso.

O mundo inteiro oscila em pernas cambaleantes: como empurrar os outros para o lado só para chegar na frente. No buddha-dharma você não deve ser tão injusto.
O buddha-dharma significa ter sucesso no fracasso. A mente do buddha-dharma é ''sentar-se em zazen por éons sem atingir o caminho de buddha.'' [Sutra do Lótus]

As pessoas fazem uma cara de sono se não há uma luta ou competição acontecendo. Elas estão sempre querendo galopar à linha de chegada. Mas isto é uma corrida de cavalos? Ou elas nadam como lontras, querendo estar um nariz a frente. No final, elas brigarão umas com as outras, como gatinhos por uma bola de lã.

Quando a questão não é ganhar ou perder, amor ou ódio, riqueza ou pobreza, as pessoas colocam uma cara de sono.

No buddha-dharma a questão não é ganhar ou perder, amor ou ódio.

Alguns querem exibir-se com seu "satori". Contudo está claro que algo que você pode usar para exibir-se não tem nada a ver com satori."

Kodo Sawaki Roshi
Para você: depoimentos Zen reunidos
Tradução de Flávio Gevieski

O passado


P: Eu pratico meditação há muitos anos, não todos os dias como deveria, mas sempre que posso. Mas aconteceram algumas coisas na minha vida que me deixaram muito chateada e depois de tanto tempo de meditação, ainda me sinto revoltada e não consigo aceitar o passado , as escolhas que me levaram onde estou. E parece que quanto mais eu tento aceitar as coisas como são hoje, fico mais deprimida.

R: Não lute com o passado, não tente aceitar, retorne continuamente ao presente, quando se apanhar rememorando corte isso e retorne, faça isso na meditação e na vida diária. Se você não olhar para trás ele se tornará cada vez mais indistinto e distante e perderá sua força. Quando você o considera ou rememora é você que lhe está dando força.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Anelos vermelhos


Finda a tarde
e ainda
escuto os sons da rua

Uma criança me espera
tranqüila de que irei
confiança

Os dias me lembram
que o tempo não espera por mim

enquanto coleciono
anelos vermelhos
nos dedos

Será tarde um dia?
Não sei...
Apenas hoje
é fim de tarde.

Jisho.
(Monja Zen budista)

Por que não posso tirar os anelos vermelhos que restam em meus dedos? (Koan Zen)

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Origem dos textos budistas


Monges assistem aula de história budista em Yokoji no programa de certificação de professores da SotoShu.

Sobre a declaração de que os textos japoneses e chineses tenham sofrido acréscimos e modificações e os textos de origem tibetana não o tenham há alguns dados a considerar:

Afirmação: "É bom lembrar que as traduções ao chinês e japonês, ao contrário das
traduções ao tibetano e dos originais em sânscrito - muitas vezes foram corrompidas."

Resposta: Os sutras mahayana muitas vezes são textos compósitos, sendo o texto final uma superposição de camadas diferentes de diversas épocas, com aparência diversa, cada sutra individualmente não apresenta necessariamente um todo coerente. Daí surgiram tradições de exposição sendo que estas formaram escolas.. Este surgimento vai do sec 1DC até 600 -700DC.
A linguagem dos primeiros sutras Mahayana é a "MIA" Médio Indo-Ariana, e posteriormente transcritos para o sânscrito , originais sânscritos nem no Triptaka, o sânscrito era lingua morta a este tempo, (foi usado o Páli) foi ressuscitada no período Gupta (320-540 DC) que readotou o sânscrito, língua religiosa, como língua oficial.(Um equivalente moderno ocorre em Israel, a ressurreição do hebraico). As porções sobreviventes sobrevivem num misto MIA/sânscrito, chamado sânscrito budista híbrido, e a prosa explanatória normalmente em sânscrito puro, sugerindo já a interpolação.
O Mahayana não produziu um cânone mas normalmente incluiu o Triptaka aceitando-o. Muitos dos sutras mahayana se auto descrevem como vaipulya (expandido) expansão do ensinamento.
O Mahayana declara que estes sutras foram ensinados em um nível arquetípico e não para todos os seres, assim se declarando um ensinamento superior ao dos sutras do cânone antigo. Há mesmo uma tradição de um Primeiro concílio alternativo presidido pelo Bodisatva Manjusri e que teria ocorrido em um nível arquetípico e no qual Buda os teria recitado em seu tempo histórico, sec 6 AC. Mas a exegese não apoia tal tese fantástica, isto pois há crítica aberta a ensinamentos e prática Hinayana (erroneamente assim chamada) reconhecidamente anterior.
Cerca de 600 sutras Mahayana sobreviveram.
Agora, um sutra como o Sutra do Coração tem evidências de ter sido primeiramente produzido em chinês, e posteriormente traduzido para o sânscrito. É datável de entre 300 a 500 DC, antes da introdução do budismo no Tibete.
Os textos tântricos, caros a tradição tibetana são datáveis entre 500 a 1000 DC.
O Sutra do Lótus situa-se entre 100 AC a 100 DC, é um texto compósito. No capítulo XI um Buda ancestral surge para dizer que o sutra não é novo mas que já foi pregado em épocas passadas.
O Sutra Avatamsaka é longo e compósito também.Teve secções traduzidas para o chinês por Lokaksema no sec II DC, supõe-se ter chegado a forma atual pelo sec IV DC, contém dois sutras que circularam independentemente e sobreviveram no sânscrito o Dasabhumika e o Gandavyuha, baseou a escola Hua-yen.

O budismo tibetano tentou sínteses incorporando todos os sutras, por esta razão sua ênfase nos sastras (comentários) estes recebem primazia nos programas de educação monástica. Uma abordagem diferente da japonesa por exemplo, onde as escolas são em larga medida especialistas. No entanto a tradição tântrica entra aí com contraste introduzindo práticas já presentes na Índia e que foram firmemente recusadas na China por seu conteúdo sexual.
Alguns destes tantras yogini foram indubitavelmente transcritos dos tantras Saivitas e adaptados para propósitos budistas por algum redator.

Há muito mais dados a serem considerados e podem ser encontrados no já abundante material disponível, assim, sabendo as origens e transcrições cruzadas, e o fato de muito do material ter passado anteriormente pelo chinês, (e o sânscrito provir do ressurgimento Gupta), afinal o Tibete só viu o budismo realmente 1200 anos depois de seu surgimento, o alegar de uma superioridade dos textos tibetanos não se sustenta.